segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Minha iluminura favorita.


     Antes de voltarmos a bela serie de imagens do profeta Elias comentadas pelo prof. Luis da Silva Pereira, não poderia deixar de compartilhar esta não menos bela iluminura. Talvez por ser um carmelita estudante nos tempos modernos, quando vi esta representação na capa do livro "Carmel in Britain: Essays on the Medieval Carmelite Province, Vol. 2" embora sem cores, foi algo que me chamou a atenção. Hoje quando lia um artigo do medievalista Keith J. Egan na mesma coleção, procurando registros de fontes sobre as primeiras fundações carmelitas na Europa, me deparei com a citação da obra do frade dominicano Vincent of Beauvais (1190-1264) o qual se refere as primeiras fundações, então na procura pela obra, encontrei a bela iluminura que por tanto tempo procurei.
    Esta é a Iluminura abre o "Speculum Historiale" de Vincent of Beauvais, em um manuscrito que pertenceu ao Rei Eduardo IV e data de 1478-80, se encontra hoje conservado na Biblioteca Britânica em Londres. 
     A Iluminura nos mostra um carmelita (notado por sua capa branca, "whitefriars") sentado em seu escritório a escrever, em segundo plano vemos um biblioteca com coloridos livros que em parte se encontram atras de uma cortina verde, a iluminura e cercada por motivos florais e na parte direita bem como na inferior encontramos as armas do rei Eduardo IV ( que são esquartejadas entre armas francesas fundo azul com três flores-de-lis em amarelo, e inglesas com fundo vermelho com três leões em amarelo). As da direita estão em estandartes e são seguradas por um par de anjos (nota-se pelas azas) e as armas da parte inferior do manuscrito encontram-se em sua representação heráldica tradicional, exceto a que se encontra no centro que leva acima do elmo uma coroa e uma coruja e não um leão. 

domingo, 16 de dezembro de 2012

Iconografia do Profeta Elias


Autor: Luiz da Silva Pereira - Professor de Iconografia no Curso de Estudos Artísticos e Culturais da Faculdade de Filosofia / UCP / Braga.

Dieric Bouts ou Dirck Bouts, o mais velho, é um importante pintor flamengo do século XV. Terá nascido em Haarlem, entre 1415 e 1420 e aí faleceu em 1475, mas trabalhou principalmente em Lovaina, a partir de 1468. Sofreu nítida influência de Roger van der Weyden, um dos maiores pintores de todos os tempos, em nossa opinião.
O quadro que vemos representa o profeta Elias no deserto. De acordo com o relato bíblico (I Reis 19,1-8), depois de ameaçado pela mulher de Acab, Jezabel, que queria matá-lo por ter passado a fio de espada os profetas de Baal, Elias fugiu para o deserto. Tendo adormecido, apareceu-lhe um
anjo que lhe ordenou que se levantasse e comesse. Ao acordar, viu perto de si
um pão cozido na cinza e uma vasilha com água. Reconfortado com o alimento, caminhou quarenta dias e quarenta noites até chegar ao monte Horeb, o monte de Deus.
São esses dois momentos da narrativa bíblica que o quadro de Dieric Bouts representa, colocando o sono de Elias e a chamada do anjo, em primeiro plano, e a partida para a grande caminhada, em segundo.
Se bem repararmos, o quadro revela um bom domínio da perspectiva linear e tonal. As figuras em primeiro plano são maiores, significando que é o tema central do quadro; a figura do profeta já de viagem é mais pequena porque está mais distante, percorrendo um caminho que se estreita à medida que se afasta. A perspectiva tonal é dada pelo colorido da paisagem. O espaço mais distante apresenta-se monocromático, de cores mais esbatidas e indefinidas. Digamos, a propósito, que uma das mais permanentes características da pintura flamenga é a presença de paisagens, em fundo, por detrás da cena representada.
O pão, colocado em cima da vasilha com água, encontra-se ao pé da cabeça do profeta. Será um símbolo do alimento eucarístico, aquele de que o homem necessita para a longa caminhada da vida até ao monte de Deus. O cajado encontra-se no chão, na primeira cena, uma vez que a personagem dorme. Que o profeta caminha é-nos sugerido pelo cajado na mão direita, mas também por um dos pés estar mais atrasado que o outro e o manto esvoaçar ligeiramente. Repare-se no pormenor de o profeta dormir apenas reclinado, a cabeça apoiada na mão direita. Tal gesto
pode sugerir que, mesmo dormindo, está pronto para partir, respondendo ao chamamento de Deus. As barbas, característica habitual na iconografia dos profetas, significam maturidade, autoridade, e que é um homem de Deus.
A cor vermelha do manto poderá aludir à relação de Elias com o elemento ígneo. Recorde-se que o texto bíblico o apresenta como um homem que “arde em zelo pelo Senhor” (I Reis 19, 14), pede a Javé um fogo que consuma o holocausto por ele preparado, provando assim que Baal é um falso deus (Ib. 18, 19-38) e é arrebatado aos céus num carro em chamas puxado por cavalos de fogo (II Reis 2, 11). Por isso, um dos seus atributos iconográficos é uma espada flamejante, para além da roda do carro em que foi transportado e do corvo que lhe traz alimento. Convém também lembrar que o profeta Elias, ao ser arrebatado para o céu, deixa cair o manto, legando-o como herança, por certo simbólica, ao profeta Eliseu, que assiste à cena e lhe sucede como profeta de Israel.
O anjo que, de pé, para ele se inclina e delicadamente lhe coloca a mão no ombro, a fim de o despertar, é pintado de branco, cor tradicional dos anjos, e ostenta magníficas asas policromas. Frequentemente, os pintores assim as representavam. Recordem-se os anjos de Fra Angélico, por exemplo. Em nossa interpretação, a policromia das asas significa a luminosidade dos anjos e, portanto, a sua natureza espiritual. Os medievais sabiam perfeitamente que as cores resultam da decomposição da luz e com a luz significavam a espiritualidade, o conhecimento e a beleza. São Boaventura, por exemplo, escreve: “Propriissime Deus lux est” (Deus é, com toda a propriedade, luz). E acrescenta que aqueles que d’Ele mais
se aproximam mais luz têm.
***
Daniele Ricciarelli é também conhecido por Daniele da Volterra, nome da localidade onde nasceu, em 1509. Faleceu em Roma, a 4 de Abril de 1566. Foi pintor e escultor maneirista de qualidade. Ficou famoso não só pelas suas obras, algumas claramente influenciadas por Miguel Ângelo, de quem foi discípulo e com quem trabalhou, mas também porque foi o encarregado de “vestir” as figuras nuas da
capela Sistina, consideradas escandalosas. Por isso lhe puseram a alcunha depreciativa de “braghettone”, quer dizer, “o cuecas”.
O presente quadro, elaborado na década de 1550 a 1560, é uma excelente pintura. Representa o profeta Elias no deserto, logo depois de o anjo o ter acordado e lhe ordenar que se alimentasse porque o esperava uma grande caminhada. Que a personagem veio de viagem e vai continuá-la é-nos indicado não pela presença de um bordão, como noutras iconografias, mas pelo saco que lhe serviu de travesseiro. O pintor capta o preciso momento em que o profeta acorda e pega no pão. A caneca de água e o pão encontram-se em primeiro plano, significando a importância do simbolismo eucarístico do alimento e da bebida que lhe permitirão renovar as forças. O anjo não é representado, uma vez que apenas foi visto pelo profeta, em sonhos.
Repare-se na grande mancha vermelha do manto, em contraste com os tons ocres do deserto. Chamámos já a atenção para a importância da cor vermelha que simbolizará o fogo, tão importante na acção do profeta. Foi o fogo descido do céu que consumiu as ofertas, no confronto com os sacerdotes de Baal; foi um carro de fogo que o arrebatou pelo espaço, e foi o manto que deixou cair, ao ser arrebatado, como uma espécie de herança espiritual a Eliseu, seu sucessor como profeta de Israel.
No entanto, a grande força expressiva do quadro encontra-se em outros pormenores. Em primeiro lugar, notemos a posição do corpo. Dá-nos a viva sensação de um homem exausto, que acaba de acordar de um sono profundo e ainda se encontra estremunhado, não conseguindo abrir completamente os olhos nem sentar-se. Por isso se apoia no braço direito. Repare-se, depois, no tratamento dado à musculatura dos braços, dos ombros e dos peitorais que se adivinham sob a túnica. Impressiona igualmente o volume do pé direito, destapado, e da perna encoberta pelo manto. Elias tem as marcas físicas de um caminhante incansável.
Julgamos ver no tratamento da anatomia uma clara influência da maneira vigorosa como Miguel Ângelo pintava os corpos. Pintava como se esculpisse. E não esqueçamos que Daniele Ricciarelli foi também um notável escultor.
Em síntese, o quadro comunica-nos a impressão de um atleta de Deus, quase de um gigante, momentaneamente fragilizado pelas canseiras da vida, mas prestes a recuperar as forças com o alimento enviado pelo céu.
***

A iconografia do profeta Elias é variada. Não se limita ao episódio em que um anjo o alimenta no deserto, como já vimos. Inclui também o holocausto das vítimas preparadas pelo profeta em disputa com os sacerdotes de
Baal (I Reis, 18); o episódio em que é alimentado pelos corvos (I Reis 17, 2-7),
bem como o arrebatamento ao céu num carro de fogo (II Reis, 2, 1-14). Estas duas
últimas iconografias são muito frequentes na arte bizantina ou por ela influenciada.
Mas há ainda uma outra menos habitual: o episódio da viúva de Sarepta, que acolhe o profeta e o alimenta com a última farinha e azeite que tinha em casa. Depois, o filho da viúva morre, mas o profeta ressuscita-o (I Reis, 17, 8-24).
O quadro que apresentamos é de Bernardo Strozzi, pintor barroco que nasceu em Génova, em 1581 e faleceu em Veneza, em 1644. A princípio influenciado por Caravaggio, deixou-se seduzir, depois de passar a viver em Veneza (1631), pelo estilo de Rubens e Veronese. O quadro que vemos, datado de 1630, revela ainda, em nossa opinião, influência de Caravaggio pela disposição concentrada das personagens e a maneira como a luz – neste caso vinda da esquerda para a direita – as recorta de um fundo totalmente escuro. Por isso se costuma dizer que Caravaggio é o iniciador do tenebrismo, caracterizado pela exarcebação do contraste claro-escuro, da luz e das sombras, valorizando os grandes planos, dando forte relevo ao desenho dos músculos, às expressões faciais, à gesticulação das personagens.
Elias aparece de barba branca e acentuada calva, elementos iconográficos habituais, para significar a sua idade, embora o braço esquerdo revele grande vigor. Repare-se que empunha ainda o cajado de viajante. Elias interpela
a viúva mal acaba de chegar da viagem de Carit para Sarepta. O gesto da mão direita é de quem pede de comer ou responde às objeções da viúva. O rosto é visto apenas de perfil.
O pintor prefere acentuar a suave beleza da viúva e, acima de tudo, a sua objeção desconfiada ao pedido do profeta, revelada nos lábios entreabertos e na perplexidade do olhar. Ao mesmo tempo, a inclinação da cabeça, que traça uma oblíqua paralela ao braço esquerdo de Elias, revela que escuta a promessa de que não lhe faltará comida. O pintor não esquece o pormenor da ânfora do azeite e da panela onde se encontra a farinha. Não os podia esquecer
porque constituem os elementos centrais do milagre e do seu simbolismo. Curiosamente, a viúva põe-lhes as mãos em cima como que defendendo os últimos alimentos que lhe restam, consumidos os quais morreria à fome.
Finalmente, a criança. Oferece uma escudela de água. O profeta pedira de beber, mas o relato bíblico não diz que é ela quem a vai buscar e a oferece. No entanto, é uma interpretação muito verosímil do pintor.
Mas o mais interessante é o facto de a criança estar colocada precisamente no centro geométrico do quadro. O seu papel será, pois, importante, senão mesmo fundamental. Com efeito, ela vai ser objeto de um milagre ainda mais
extraordinário do que a multiplicação da farinha e do azeite. Vai morrer e ser ressuscitada pelo profeta. Os milagres da ressurreição revelam não só o poder de Deus sobre a morte, mas a promessa de uma vida eterna.
Não podemos deixar de relacionar o episódio quer com a multiplicação dos pães e dos peixes, prefiguração da eucaristia, quer com a morte e ressurreição de Jesus Cristo, o filho de Deus. Tal relação permite-nos intuir o significado profundo de todo este episódio. A criança que eleva a escudela para oferecer a água, sem a qual não é possível a vida humana, é símbolo de Cristo que morre, ressuscita e oferece a comida e bebida da vida eterna, que é Ele próprio.
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sábado, 15 de dezembro de 2012

História do Carmelo no Brasil:


Titulo: A INFLUÊNCIA DA ORDEM CARMELITA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DA SOCIEDADE PERNAMBUCANA 

Autora: Profa. Dra. Maria das Graças Aires Araújo 

Resumo:
A presente pesquisa tem como objetivo analisar o processo de fixação e expansão da Ordem Carmelita, em Pernambuco, entre os anos de 1654 e 1727, a partir da organização e econômica empreendida pelos religiosos  na sociedade colonial pernambucana. Através do desenvolvimento deste trabalho, pode-se vislumbrar a participação empreendida pelos religiosos, no processo de ocupação e conquista do território pernambucano, durante a colonização portuguesa.

PDF:

http://www.cerescaico.ufrn.br/mneme/anais/st_trab_pdf/pdf_6/graca_st6.pdf

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Autor: HONOR, André Cabral

Resumo:

Após as sublevações em Pernambuco, posteriormente intituladas “Guerra dos Mascates”, é possível perceber nos documentos avulsos manuscritos existentes  no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa os ecos desse conflito na Capitania da Paraíba, que se apossa do discurso de fidelidade  ao rei para tentar se sobressair a Pernambuco. Neste contexto, os carmelitas reformados da Paraíba, por meio do seu então Capitão-mor João da Maia da Gama, vituperam os carmelitas observantes de Olinda, pedindo a entrega do convento destes à Reforma Turônica, expressando uma faceta do conflito eclesiástico que se iniciou na segunda metade do século XVII com a vinda dos carmelitas reformados para as capitanias do norte. Por meio de uma análise documental é possível lançar novos olhares sobre esses conflitos eclesiásticos dentro do Brasil  colônia e o contexto sócio-econômico que os rodeiam. A presente pesquisa faz parte da dissertação  de mestrado “O verbo mais que perfeito: uma análise alegórica da cultura histórica carmelita na Paraíba colonial” vinculado ao Mestrado em História da Universidade Federal da Paraíba.

PDF:

http://anpuh.org/anais/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.0188.pdf

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Novo Comissariado Geral do Paraná


Prior Geral Frei Fernando Romeral, lê o decreto de ereção do
Comissariado Geral dos Carmelitas do Paraná 



   No ultimo dia 20 de Outubro, Teve lugar em nossa Igreja de Paranavaí ( Paraná, Brasil), uma solene celebração eucarística em ação de graças pela ereção canônica do novo Comissariado Geral do Paraná, até agora Comissariado Parovincial da Alemanha Superior. A Eucaristia foi presidida pelo bispo da Diocese de Paranavaí, Dom Jeremias Steinmetz, com ele concelebraram Dom Frei Wilmar Santin. O.Carm, Bispo da Prelazia de Itaituba, Prior Geral, Pe. Fernando Millán Romeral, O.Carm., Frei Geraldo D’Abadia Pires Maciel, Provincial do Rio de Janeiro, Frei Francisco Manoel de Oliveira, O.Carm. (nomeado primeiro comissário) e praticamente a totalidade do Comissariado, Assim como numerosos sacerdotes diocesanos. Ao final da cerimonia (na qual se celebrou também a profissão solene de um irmão do Comissariado), o Prior Geral leu o decreto de ereção e sublinhou a importância histórica deste ato.
    Nos dias antecedentes a dita celebração, os membros do Comissariado se reuniram em um “capitulo espiritual extraordinário” para se colocar em espirito de discernimento frente aos grandes desafios que se abrem nesta nova etapa do mesmo.
     Com este, são quatro os Comissariados Gerais da Ordem: Le Bruna em Nápoles, Portugal, Filipinas e Paraná.

Fonte: CITOC, tradução nossa.

Nesta ocasião o jornal de Paranavaí "Diário do Noroeste" publicou a seguinte reportagem sobre a história dos carmelitas no Paraná:

quarta-feira, 3 de outubro de 2012


A festa de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça no calendário litúrgico Carmelitano
Frei Tiago Correia O.Carm[1]

No fim do século XII um grupo de eremitas se reúne junto a Fonte de Elias no Monte Carmelo; entre 1206 e 1214 pedem uma regra de vida a Santo Alberto de Jerusalém. Porém embora profundamente influenciados pela figura do Profeta Elias e pela Regra de Santo Alberto, estes eremitas não ficaram conhecidos como elianos ou albertinos, mais sim como Irmãos de Maria, isso porque Maria era presença constate na vida do homem medieval, seja dos peregrinos que saiam de suas pátrias em busca do encontro com Deus na solidão e tomavam por companhia a Virgem, seja dos cruzados que com armas partiam para a defesa da Terra Santa ao ressoar da Salve Regina oração que é composta como o hino dos cruzados.
            Nossos primeiros pais no Carmelo são estes homens, peregrinos e cruzados, que guardavam profundo amor por Maria, e ela dedicam uma capela no Monte Carmelo, assim Maria se faz Irmã entre os irmãos do Carmelo, e Senhora daquele Lugar.
            Entre tanto os êxitos cristãos nas cruzadas eram cada vez menores, os ataques muçulmanos logo tornaram o Carmelo um lugar inseguro, e em 1238 se iniciaram as migrações para Europa. Embora tenham os carmelitas saídos do Carmelo geográfico, não deixaram a espiritualidade do Carmelo, onde em seu centro estava Maria.
            Nos primeiros séculos da Ordem, esta ganha cada vez mais um caráter Mariano, em 1251, temos datada em nossa tradição a visão Mariana a São Simãos Stock a partir da qual o Escapulário do Carmo, se torna sinal de proteção mariana, em 1287 os carmelitas trocam suas capas listadas pela capa branca, representando a pureza de Maria.
            Nas universidades inglesas e francesas do século XIV, carmelitas como John Beconthorp e Gui Terrena, argumentavam como o Carmelo poderia ter a essência de Maria, visto que o nome na concepção medieval representa a essência e nossa Ordem tem o nome de Maria, logo os carmelitas tem a essência de Maria. Ou estavam presentes nos embates teológicos na defesa da perene Virgindade de Maria, e sua Imaculada Conceição.
            Ou seja, Maria se torna parte da vida, do ser carmelita, e isso é bem expresso na liturgia, nas constituições 1312 se pede para que se reze uma antífona Mariana ao fim de cada uma das horas canônicas, pede-se ainda especial solenidade na Missa de Sábado, onde se deve fazer a memoria da Virgem.
            A Liturgia Carmelitana ainda prescrevia especial solenidade nas festas marianas (Purificação, Anunciação, Assunção, Natividade e ainda como festa própria a Imaculada Conceição). A festa patronal, a mais importante dentre os festejos da ordem mudou no decorrer dos séculos; até 1300 foi Anunciação, em 1306 encontramos a festa da Conceição e até a segunda metade do século XIV Assunção de Maria; já no século XIV,  principalmente na “Inglaterra” se festejava, Maria Senhora do Carmo, no dia 17 de Julho, esta festa foi incorporada por toda a Ordem e transferida no século XV para o dia 16 de Julho. Em 1606 o Capitulo Geral reconhece e unifica a liturgia com titulo “Solene Comemoração Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo”.
            O Carmelo descalço embora tenha deixado o rito litúrgico carmelitano, na festa de Nossa Senhora do Carmo, celebravam com a liturgia própria da Antiga Observância, E em 1609 aparece na liturgia da Congregação Descalça Italiana a festa do Carmo grau de solenidade com oitava. A oitava seria acrescentada também no Carmelo observante em 1628.
            A celebração da oitava nas grandes festas é de inspiração bíblica,  encontramos no antigo testamento prescrito para a festa dos Tabernáculos e na festa da Dedicação do Templo, porém este costume foi transferido ao cristianismo só no século IV, onde se reservava um período de alegre retiro nas festas da Pascoa, Pentecostes, e no VIII século acrescentou-se a oitava de natal. Já na Idade Média as oitava passaram a ser celebradas nas principais festas das Igrejas particulares e das Ordens religiosas.
Sendo a oitava da Solenidade de Nossa Senhora do Carmo, oito dias de alegres liturgias segundo a festa celebrada, partindo do dia 16 de Julho conta-se oito dias ai teremos o dia 23 que é dedicado a memoria de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça, Assim passaram os Carmelitas a terminar a oitava da festa do Carmo com esta comemoração, que vem das antigas ladainhas marianas que invocavam a Mãe da Divina Graça.
Com a reforma litúrgica do Concilio Vaticano II, as oitavas foram dedicadas apenas as festas do Natal e da Pascoa de Nosso Senhor, a festa do Carmo porém se manteve com o grau de solenidade para os dois ramos da Ordem, e memoria facultativa para Igreja. O Carmelo descalço tendo em referência a antiga oitava manteve sob o grau de memoria facultativa a celebração de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça, o que não aparece no novo calendário do Carmelo Observante.

Referências:
BOAGA, Emanuele, Celebrare i nostri santi, Edizione Carmelitane: Roma, 2010
 - Senhora do Lugar: Maria na história e na vida do Carmelo, Editora do Carmo: Paranavaí, 1994.
Missale Carmelitanum, Ordinis Fratum Beate Merae Virginis de Monte Carmelo: Rome, 1935.



[1]  Escrito para as Monjas Carmelitas Descalças, do Carmelo Nossa Senhora da Assunção e São José em Curitiba.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Trabalhos e artigos sobre a presença carmelita na Amazônia entre os séculos XVI e XVII:


PUPURA, Christian, FORMAS DE EXISTÊNCIA EM ÁREAS DE FRONTEIRA, USP, 2006.

Resumo:


Esta pesquisa tem por objetivo o estudo da colonização portuguesa do oeste amazônico a partir da atuação de atores sociais significativos tais como o missionário carmelita e o sertanista. Esses agentes da colonização, com seus papeis diversificados, participaram à formação de um território político português cuja extensão foi definida pelas relações com as populações indígenas



CORRêA, Marcus Vinicius de Miranda. Da Capela Carmelita a Catedral Metropolitana de Manaus (AM) uma arqueologia da arquitetura, USP, 2005

Resumo:

A Catedral Metropolitana de Manaus - Igreja Nossa Senhora da Conceição surgiu de uma capela carmelita construída no século XVII e depois de várias reconstruções, recebeu vários acréscimos durante os anos até atingir a dimensão atual. A pesquisa arqueológica na Catedral Metropolitana de Manaus ocorreu entre os dias 15 de abril e 06 de outubro de 2002. Neste período foram realizados trabalhos no edifício, concentrados na sacristia oeste da igreja, nave central e varanda oeste. Nos jardins foram encontrados uma diversidade de materiais como, louça, vidro, ferro, provenientes em sua maioria do aterro realizado pelo prefeito Jorge Teixeira com material proveniente do, então, lixão da cidade. Já no aterro realizado no séc. XIX foram encontrados basicamente material argiloso. As evidências biológicas aparecem em todos os aterros, algumas são inerentes aos aterros, outras são resultado de atividades de insetos. O ciclo econômico da borracha contribuiu fortemente para o desenvolvimento da região e Manaus. Tanto que suas principais obras arquitetônicas e de infra-estrutura foram efetuadas durante o apogeu do ciclo da borracha. Se por um lado Manaus tinha recursos para obras como o Teatro Amazonas, por outro, faltava mão-de-obra, tanto pela pequena população como pelo atrativo dos seringais




SANTIN, Wilmar, O BREVE EXPONI NOBIS NUPER DE BENTO XIII, QUE CONCEDIA AO VIGÁRIO PROVINCIAL CARMELITA DO MARANHÃO A FACULDADE DE DAR O TÍTULO DE DOUTOR AOS FRADES DE SUA ORDEM.

sábado, 4 de agosto de 2012

Igreja do Carmo - Olinda

No fim de Janeiro de 1580 partia de Portugal uma armada, que contava com a presença de quatro frades carmelitas (frei Domingos Freyre, frei Alberto, frei Bernardo Pimentel e frei António Pinheiro), se dirigiam ao Brasil com o objetivo "servir a Deus e sua Mãe Santíssima, aplicando-se com todo cuidado a salvação das almas, e aumento da religião cristã", foram recebidos em Pernambuco com sinais de grande afeto pelo bispo e residentes, e logo iniciaram seu trabalho de conversão entre os gentios e reforma dos costumes entre os convertidos.
Frei Balbino Velasco O.Carm, nos explica a fundação do Carmo de Olinda: "Segundo parece, foram vários os lugares oferecidos para se estabelecerem. Optaram por Olinda. Disso deram conta, no capitulo provincial celebrado em Beja, em 30 de Abril de 1583. No ano seguinte, Jerónimo de Albuquerque Coelho, Capitão. Governador e Senhor da Capitania de Pernambuco, outorgou licença para a fundação na então vila e posteriormente cidade de Olinda. A licença foi assinada por Jerónimo Rocha, escrivão da Fazenda Real, no dia 15 de Dezembro de 1590. Estabeleceram-se na ermida de Santo Antônio e o convento foi dedicado a este santo. O terreno foi doado pelos oficiais da Câmara e ficou em frente da comunidade o Frei Pedro Vianna. Durante os primeiros anos foi residência dos superiores do Carmelo brasileiro e casa-mãe das novas fundações"
E com grande alegria que nos carmelitas recebemos neste dia 05 de Agosto de 2012, o primeiro Carmelo no Brasil.





Tem este blog por objetivo, compartilhar com os interessados a rica história da Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo.



Temos aqui informações introdutórias sobre o Carmelo medieval e links para alguns artigos e trabalhos, assim se torna possível um estudo mais atento destes primeiros séculos do Carmelo, que neste momento e onde esta nosso foco de trabalho, porém sempre que possível espero postar também informações sobre a história do Carmelo no Brasil e o Carmelo na Atualidade.



Frei Tiago Correia O.Carm

Cronologia da História do Carmelo no Brasil.

Século XVI

1580 - Chegada dos primeiros frades carmelitas no Brasil.

1583 - Contrução do primeiro convento em Olinda - Pernambuco.









1595 - Criação do Vicariato do Brasil com quatro fundações:

Convento do Carmo de Olinda - Pernambuco (1583)



Convento do Carmo de Salvador - Bahia (1586)









 Convento do Carmo de Santos - São Paulo (1589)



Convento do Carmo do Rio de Janeiro - RJ (1590)



Fundações do Vicariato do Brasil:

Convento do Carmo em Agra dos Reis - RJ (1596)


Convento do Carmo de São Paulo - SP (1559)












Século XVII

1606 - Vicariato do Brasil já contava com 99 frades.

Fundações:

Convento do Carmo em São Cristóvão - Sergipe (1600)



Convento do Carmo na Paraiba (1608)

Convento do Carmo em São Luis do Maranhão (1616)



Convento do Carmo em Belém do Pará (1624):


Convento do Carmo de Mogi das Cruzes - SP (1629)



Convento do Carmo de Recife - Pernambuco (1631)



Convento do Carmo de Goiana (1636)



Convento do Carmo de Alcantara - Maranhão (1647)



1624 - Criação do Vicariato do Maranhão.

1636 - Criação do primeiro Sodalicio da Ordem Terceira do Carmo em Salvador.

1640 - Criação das Vice-Provincias do Estado do Brasil e do Maranhão.

1648 - Criação do Sodalicio da Ordem Terceira do Carmo no Rio de Janeiro.

Interior do Igreja da Ordem Terceira no RJ


1675 - O Carmelo no Brasil contava com 246 frades.

1685 - Divisão da Vice-Província do Estado do Brasil, nos vicariatos do Rio de Janeiro e Vicariato da Bahia-Pernambuco.


Século XVIII


1720 - Elevação de Vicariato do Rio de Janeiro a Província do Rio de Janeiro e Província Bahia-Pernambuco.


1725 - Criação do Vicariato da Reforma Turonese.

1733 - Morre Dom frei Bartolomeu do Pilar, Primeiro Bispo do Belém do Pará.

1744 - Elevação de Vicariato a Província Reformada Independente, que em 1744 já contava com 120 frades.

1693 á 1755 - Missões Carmelitanas junto aos rios Negro e Solimões.

Século XIX

1825 - Morre Frei Joaquim do Amor Divino "Frei Caneca":




1829 - Morre Frei Leandro do Santissimo Sacramento - Botânico, fundador e primeiro diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.


1864 - Morre frei Pedro de Santa Marina - Preceptor de Dom Pedro II, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro.

1888 - Primeira tentativa de restalração do Carmelo depois da supressão.

1890 - Haviam apenas 8 frades carmelitas no Brasil.

1890 - Inicio da Restalração com frades vindos da Espanha.

Século XX

1904 - Chegada de sete frades holandeses para dar continuidade a restalração do Carmelo Brasileiro.

1922 - Reeguimento da Província do Rio de Janeiro.

1934 - Termino do Novo Convento e Igreja do Carmo em São Paulo - SP


1949 - Criação da Província Pernambucana.

Novas fundações:

Convento do Carmo em São Paulo - SP (1940)

Convento do Carmo em Belo Horizonte - MG (1941)

Convento do Carmo em Jaboticabal - SP (1948)

Convento do Carmo em Unaí (1965)

Convento do Carmo em Brasilia (1965)

Convento do Carmo em Petrolina (1998)

1948 - Fundação do Mosteiro "Flos Carmeli" em Jaboticabal

Atual comunidade do Mosteiro "Flos Carmeli"


1951 - Criação do Comissariado Provincial do Paraná:

Convento do Carmo em Paranavai - PR (1951)


Convento do Carmo em Graciosa - PR (1953)

Convento do Carmo em Curitiba - PR (1967)



Covento do Carmo em Rolim de Moura - RO

1982 - Morre o Servo de Deus, Dom Gabriel Couto - Primeiro bispo de Jundiaí



1991 - Fundação do Mosteiro "Mater Carmeli" em Paranavaí:













sexta-feira, 3 de agosto de 2012

HISTÓRIA DOS CARMEITAS



Ludovico SAGGI



I. ORIGENS E DESENVOLVIMENTO INICIAL.

Os carmelitas surgiram dos cruzados estabelecidos no Monte Carmelo da Galiléia no século XII. Ali estão no início do século seguinte “ao exemplo e imitação do santo e solitário homem Profeta Elias, junto à fonte que de Elias leva o nome, em cubículos como colméias, onde como abelhas colhiam o mel divino da doçura espiritual” (Jacques de Vitry, Historia Orientalis, c. LII). Tanto na época como depois, os carmelitas nunca deram a alguém em particular o título de fundador, permanecendo fiéis ao modelo de Elias, ligado ao Monte Carmelo pelo episódio narrado em 1Rs 18, 20-45 (sacrifício e nuvenzinha) e pela tradição patrística greco-latina. Construíram uma capela e a dedicaram a Maria, Mãe de Jesus. Isto fez com que surgisse neles o sentimento de pertença a Nossa Senhora como Senhora do Lugar. Dela tomaram o nome e a ela deram os atributos dados ao fundador e padroeiro. Em seguida o elemento mariano foi enriquecido. A “forma de vida” – de acordo com o “propositum” manifestado pelos eremitas – foi dada num ano não sabido entre 1206 e 1214 pelo patriarca de Jerusalém Santo Alberto. Ele, porém, residia em São João de Acre. Antes de ir para a Terra Santa, tinha sido bispo de Vercelli. Parece que, por causa das conhecidas restrições do IV Concílio do Latrão, se julgou oportuno também pedir a confirmação pontifícia. Esta foi concedida pelo Papa Honório III em 30 de janeiro de 1226. Depois foi confirmada mais vezes até se tornar verdadeiramente uma própria regra. Os Papas conduziram a Ordem do Carmo em direção ao movimento dos Mendicantes, quando foi necessária a transferência para o Ocidente por causa de instável situação política na Palestina. O Papa Inocêncio IV, servindo-se de dois dominicanos, adaptou a regra (a pedido de um capítulo geral da Ordem) e a confirmou definitivamente no dia 1º de outubro de 1247.

A Ordem foi erradicada da Terra Santa com a caída do reino latino (1291). Os conventos existentes na Palestina: do Monte Carmelo, de São João de Acre e de Tiro desapareceram. No entanto permaneceram com o título de Província da Terra Santa os conventos da ilha de Chipre até 1571.

No final do século XIII a Ordem se tinha estendido pela Europa. Contava com cerca de 150 casas, agrupadas em 12 províncias. Sofreu dificuldades internas de adaptação. Nicolau Gálico, que foi prior geral depois da metade do século, tentou reconduzir os carmelitas à vida puramente eremítica. Neste sentido, é célebre a sua Ignea Sagitta de 1270-71. Mas também houve dificuldades externas devido ao ambiente contrário aos Mendicantes e à decisão do II Concílio de Lyon (1274) de tolerar os carmelitas até nova decisão. O Papa Honório IV os confirmou na prática, e pouco depois foram confirmados de direito pelos papas Bonifácio VIII (05/05/1298) e João XXII (13/03/1317 e 21/11/1326). Esta última data assinala a extensão aos Carmelitas da bula Super cathedam, já concedida aos franciscanos e dominicanos.

A história da Ordem se articula na obra de mais ou menos 130 capítulos gerais (o número não é de todo seguro devido às incompletas informações relativas ao século XIII) e de mais de 90 entre priores gerais e vigários gerais apostólicos. Nos século XIV e XV a Ordem seguiu nas grandes linhas as vicissitudes das outras Ordens Mendicantes: o florescimento dos estudos, o enfraquecimento do espírito religioso causado pelas calamidades em geral (peste negra[2] (1347-1350), cisma do Ocidente, “claustralidade”). O esforço de restauração através dos santos e dos movimentos de “observância” mais ou menos vastos.

Em relação aos estudos, quando os carmelitas apareceram na Europa as várias escolas já estavam formadas. Foram bastante ecléticos e não tiveram até o século XIV prescrições precisas da cúpula da Ordem. Recordamos os nomes de Gerardo de Bolonha (1240-1317), que foi o primeiro mestre parisiense da Ordem e prior geral (1297-1317); Roberto Walsingham (+ após 1312): Guido Terreni (1270 - 21.8.1342), prior general (1318-21), depois bispo de Maiorca (1321-32) e Elne (1332-42); Siberto di Beka (1260/70-1322?), o primeiro grande liturgista da Ordem; João Baconthorp (1290?-1348) que interpretou Averróis; Osberto Anglico; Paulo de Perugia (+1344+); Miguel Aiguani (1320+-1400) exegeta, prior general (1380-6); Francisco de Bacon (+1372?); João Brammart (+1407), cofundador da universidade de Colônia; Francisco Martí; Tomás Netter ou Walden (+1431), conselheiro, pregador e confessor de Henrique IV, V, e VI da Inglaterra, por Martinho V foi chamado de «validus ensis Ecclesiae» por causa de seus escritos contra Wicliff (Doctrinale antiquitatum fidei Ecclesiae catholicae, 3 vol.).



II. A OBSERVÂNCIA

Os movimentos de reforma organizados tiveram início logo após a reconstrução da unidade da Ordem (Capítulo geral de 1411), que seguiu ao cisma. Foi a “Observância das Selvas”, surgida no convento homônimo junto a Florença em 1412-3, depois uniu-se às reformas dos conventos de Gironda na Suíça e de Mântua e se tornou a Congregação Mantuana, aprovada pelo Papa Eugênio IV em 03/09/1442. Esta prometia a restauração do fervor da vida em comum, renunciando também à mitigação da regra concedida por Eugênio IV em 1435 (a data oficial no entanto é 15/02/1432), mas manteve este ponto só por uns 20 anos. No período de maior expansão teve 53 conventos e mais de 700 religiosos e em torno de 15 mosteiros femininos. Entre os seus homens mais ilustres, recordamos: o beato Ângelo Agostinho Mazzinghi de Florença (+17.8.1438, beatificado em 1721); beato Bartolomeu Fanti de Mântua (+1495, beatificado em 1909); beato Battista Spagnoli, também de Mântua (1447-1516, beatificado em 1885), seis vezes vigário general da Congregação e três anos prior general de toda Ordem, insigne humanista (mais de 50.000 versos latinos e outras obras em prosa), chamado por Erasmo como o Virgílio cristão; beata Joana Scopelli (+9.7.1491, beatificada em 24.8.1771), fundadora do mosteiro de Reggio Emília; beata Arcângela Girlani (+25.1.1495, beatificada em 1º.10.1864), fundadora do mosteiro de Mântua; Alberto Leoni da Revere (1563ca-1642), reformador dos conventos de Castellina e das Selvas (ambos perto de Florença) e em Florença instituidor da «Obra dos catecúmenos» para a conversão de hebreus e outros, e precursor da obra benefício aos dementes; João Domingos Lucchesi (1652-1713), grande penitente. A Congregação Mantuana teve freqüentes controvérsias com o prior geral da Ordem por causa da visita canônica, especialmente nos dois primeiros séculos de existência. Fui reunida ao antigo tronco da Ordem pelo Papa Pio VI em 1783.

Outro movimento de observância foi na França a Congregação Albiense, iniciada em 1499 com elementos da Congregação Mantuana por obra do bispo de Albi, Luís d’Amboise. Foi aprovada pelo Papa Leão X em 15/09/1513 e suprimida pelo Papa Gregório XIII em 1º/05/1584, mas durou na prática até 1602. Teve poucos conventos e esteve quase sempre em luta com os superiores gerais da Ordem. Não se destacou pelo espírito interior devido às condições gerais da França na segunda metade daquele século.

Ente os conventos individualmente que abraçaram vida mais austera deve-se ressaltar o de Monte Oliveto, perto de Gênova, fundado por Hugo Marengo – que também pertenceu à Mantuana – com a licença do Papa Leão X em 02/08/1516. Mais tarde passou à imediata dependência do prior geral e depois à Província Lombarda.

Até este período floresceram almas santas também fora dos movimentos oficiais de reforma. Pode-se indicar: Santo Alberto de Sicília (+1307, culto reconhecido em 1457 e 1476), considerado o «pai da Ordem» porque é o primeiro de seus santos; Santo André Corsini (1315?-1374, beatificado em 1440, canonizado em 1629), bispo de Fiésole (1349-74); São Pedro Tomás (1305+-66), bispo sucessivamente de Patti e Lipari, de Coron na Moréia, de Creta, patriarca de Constantinopla, legado da Santa Sé em várias cortes da Europa e do Médio Oriente, negociador da reunião dos Gregos com Roma, principal fundador da faculdade teológica de Bolonha (1364), chefe espiritual da cruzada promovida por Pedro de Lusignano (1365); beato Franco de Sena (+1291?), grande penitente; beato Nuno Álvares Pereira (1360-1431, beatificado em 1918), Grande Condestável e herói nacional português, cujas façanhas foram cantadas nos «Lusíadas» de Luís de Camões, depois «donato» carmelita; beato Giacomino da Crevacuore (+3.3.1508, beatificado 3.3.1845), converso; beato Luís Rabatá (+1490, beatificado em 1841) prior do convento de reforma de Randazzo na Sicília, celebrado pelo perdão das ofensas; beata Francisca d’Amboise (1427-85, beatificada em 1863), duquesa da Bretanha, depois carmelita, fundadora do mosteiro de Bon Don (as primeiras carmelitas na França). Para o século XV vai recordado o prior general beato João Soreth (1394+-1471, beatificado em 1866), que, sob a base da regra mitigada pelo Papa Eugênio IV, organizou nas províncias um vasto movimento de reforma, que tomou dele o nome.

Também para os carmelitas a questão principal por longo tempo foi a da reforma. As tentativas do século XV produziram notáveis frutos, mas não sempre duradouros. No século seguinte se dedicaram a este problema os grandes priores gerais Nicolau Audet (1481+ - 1562), João Batista Rossi (1507-78) e João Batista Caffardo (+1592).

Audet, prior geral de 1523 a dezembro de 1562, percebeu que a responsável última pela situação da Ordem era a Cúria Roma, sobretudo por causa da praxe das dispensas que anulava na prática toda tentativa séria de reforma. Uniu-se como os superiores gerais das outras Ordens (foi amicíssimo de Seripando, dos agostinianos) para uma ação comum. Contribuiu para manter vivo o problema que em parte pôde ser resolvido ainda antes do término do Concílio de Trento. No interior da Ordem promoveu a restauração da perfeita vida comum, da clausura, da pobreza, da cura dos doentes, da observância litúrgica, da formação dos noviços e do progresso nos estudos, da prevenção e cura dos efeitos negativos da doutrina protestante.



III. A REFORMA TERESIANA.

A obra de Audet foi retomada – em melhores condições devido à publicação da reforma tridentina – pelo sucessor João Batista Rossi (ou Rubeo) de Ravena (1562-78). Ele se encontrou diante às dificuldades de crescimento da Reforma de Santa Teresa, iniciada no ramo feminino com a fundação do mosteiro de São José em Ávila no ano 1562 e no ramo masculino com a abertura do primeiro convento em Duruelo no ano 1568..

A reforma promovida por Audet visava a restauração das antigas prescrições e se pode dizer que ainda mantinha sua inspiração medieval. Mas a insatisfação explodida com tanta violência na Igreja tinha fundamento também na transformação dos tempos, que também devia ser levada em conta. Por isto surgiram vária formas novas de vida religiosa ou reformas das antigas Ordens. Pretendia-se dar uma alma mais profunda às várias prescrições de caráter externo, algumas das quais foram até mesmo agravadas. Tratava-se de uma nova fórmula, pelo menos na interpretação, que para muitos parecia a única válida e para vivê-la mais intensamente foram tentadas também perigosas aventuras.

O Prior Geral Rossi captou o espírito formador deste novo curso e o exaltou, desejando que se tornasse o fermento para toda a Ordem. Em abril de 1567 ele se encontrou com Santa Teresa de Ávila e a exortou a fundar tantos mosteiros femininos “quantos os cabelos que tinha na cabeça”. Quanto aos religiosos, já antes que Santa Teresa projetasse a extensão da sua reforma ao ramo masculino (para que as monjas “descalças” pudessem ter ajuda espiritual dos seus confrades), o prior geral Rossi tinha favorecido várias tentativas de maior interiorização da vida, seja na Itália como na Espanha. Quanto aos conventos dos descalços, ele permitiu, em 10 de agosto de 1567, que se abrissem dois. Nestes os “contemplativos” deviam permanecer sempre sujeitos à obediência do provincial de Castilha. Sobre o número dos conventos ele próprio autorizou o seu aumento, mas em relação ao território manteve a exclusão (datada em 1567 quando tinha faculdade apostólica) da Andaluzia por motivos objetivamente graves. Surgiu um sério “conflito de jurisdição”, sobretudo por causa do visitador apostólico, o dominicano Francisco Vargas, que queria casa dos descalços na Andaluzia, e do núncio Nicolau Ormaneto. O conflito teve fases dramáticas, em particular depois que o capítulo geral de Piacenza de 1575, com autoridade apostólica, impôs o fechamento dos conventos andaluzes, e o núncio Ormaneto ajudou a quem se opôs a tal decisão. Um episódio da controvérsia, porém, materialmente ligado principalmente a fatos acontecidos no mosteiro da Encarnação em Ávila, foi o encarceramento de São João da Cruz no convento de Toledo, de onde conseguiu fugir nove meses mais tarde (dezembro de 1577 a agosto de 1578). O conflito terminou no momento em que os descalços obtiveram a província separada (breve Pia consideratione de 22 de junho de 1580, atuada no capítulo de Alcalá de 3 de março de 1581). O prior geral Rossi já tinha morrido e o seu substituto era João Batista Caffardo (1578-92), que manteve boas relações com os descalços. Ele, além disso, trabalhou na execução dos decretos tridentinos. No capítulo geral de Cremona de 1593 (quando foi eleito João Estêvão Chizzola), os descalços obtiveram a separação jurídica do velho tronco. Neste meio tempo tinham elaborado constituições próprias e tinha deixado o rito da Ordem pelo Romano, conseguindo um próprio procurador junto ao Papa (breve Quae a praedecessoribus, de 20 de setembro de 1586), e tinham se reunido em Congregação (breve Cum de statu de 10 de julho de 1587), compreendendo 5 províncias e governada pela rígida “Consulta” de 7 pessoas, das quais a principal teve Nicolau Doria como vigário.



IV. OS EFEITOS DA REFORMA PROTESTANTE.

Fora da Itália e da Espanha, os efeitos foram graves. No final do século XVI, no capítulo de 1593, devia-se nomear 6 provinciais “titulares”, em vez dos efetivos para as províncias que tinham sido destruídas: Saxônia, Boêmia, Dácia (países bálticos), Inglaterra, Escócia e Irlanda. Nomeou-se também o provincial titular da Terra Santa, visto que a Província de Chipre (herdeira do título) tinha se perdido com a tomada da ilha por parte dos turcos em 1571. Graves foram também os danos nas províncias que conseguiram se manter em pé, ou seja, as duas das Alemanha (Inferior e Superior) e as sete da França, onde foram destruídos 20 convento e mortos vários religiosos.

No início da reforma protestante vemos os carmelitas Teodoro de Gouda na universidade de Colônia, Nicolau Edmundano e João van Paeschen na de Lovaina, empenhados na luta contra Erasmo e inovadores. Valiosos defensores da ortodoxia na Alemanha foram particularmente André Stoss (1477?-1540), provincial da Província Germaniae Superioris a partir de 1529, e Everardo Billick (1500+-57), de 1542 provincial da Província Germaniae Inferioris. Este último participou dos colóquios de Regensburgo e Ausburgo (1547s) e em julho de 1547 foi encarregado por Carlos V da pacificação religiosa. Na Dinamarca o último e grande defensor da Igreja Católica foi o carmelita frei Paulo Elias, eleito provincial em 1522 (+ 1534?), polemista e conselheiro dos bispos católicos. Na França se distinguiram os provinciais Mateus Lelande (da França), Alberto Jeannin (de Narbona) e Vital de Luperia (da Gasconha). Na Itália, Gian Maria Verrati, da Congregação Mantuana, defendeu a doutrina católica com numerosos escritos.

A contribuição dos carmelitas no Concílio de Trento nos seus três períodos foi no total em torno de 40 participantes, entre padres e teólogos. Os efeitos do protestantismo na Itália foram bastante modestos, também por mérito das disposições adotadas nos capítulos da Congregação Mantuana de 1527 e 534 e no capítulo geral da Ordem de 1548.



V. MISSÕES.

As perdas causadas pelo protestantismo foram em parte compensadas pelo aumento das casas na Itália (até de modo exuberante, tanto que o Papa Clemente VIII, em 1592, autorizou o prior geral de suprimir os conventos que causavam preocupações) e no Novo Mundo, especialmente no Brasil (onde em 1606 havia 99 religiosos carmelitas em 6 conventos). A expansão na “Índias Ocidentais”, mais que um intento missionário (não excluído, antes positivamente previsto), foi querida como forma normal de apostolado e um modo de defender a devoção a Nossa Senhora.

Grandes foram as dificuldades encontradas na América espanhola. Parece que, no início, se tratava de iniciativas individuais. O primeiro carmelita, que se sabe, a trabalhar nas Américas foi Gregório de Santa Maria junto com Francisco de Montejo em Yucatán no ano 1527. Houve conventos no Panamá por volta de 1535, em Nova Granada (Colômbia) em torno de 1560 e em Santa Fé de Bogotá em 1569. No tempo do prior geral Rossi vagavam pelas Américas religiosos carmelitas por vários motivos. Ele tentou fazer com que se juntassem e vivessem em convento. O Pe. Antonio Vásquez de Espinosa (+1630) trabalhou nas missões e viajou pela América Latina “descobrindo novos países” e escrevendo depois no livro Compendio y descripción de las Indias Occidentales (editado muitas vezes, também em versão inglesa em 1942) notícias da geografia, botânica, antropologia, história civil e eclesiástica da América espanhola. A partir de 1588, a Coroa da Espanha pôs repetidamente obstáculos à presença carmelita e por fim ordenou que os carmelitas abandonassem as suas fundações e voltassem pra a pátria, alegando como motivo que tinham fundado conventos sem licença e que davam escândalos recolhendo esmolas, mesmo se o objetivo era de piedade. As autoridades locais, ao contrário, elogiavam a sua atuação.

Mais livre foi a ação no Brasil, onde os carmelitas foram oficialmente convidados a ir em 1579 pelo cardeal Infante Henrique. Os quatro carmelitas foram ao Brasil no ano seguinte. Com o tempo formaram 3 províncias religiosas.

Notáveis também foram os resultados obtidos nas Antilhas pela Reforma de Touraine nas missões começadas em 1646 e duraram até o tempo da Revolução Francesa.

Na Itália a reforma de Monte Santo ou Primeiro Instituto surgiu com um objetivo missionário, mas as suas tentativas de abrir missões na Palestina, em Chipre e na Pérsia faliram. Conseguiu só fazer trabalhar alguns religiosos na Dalmácia, na região de Sebenico, por um período de mais ou menos 20 anos.



VI. A MAIS ESTRITA OBSERVÂNCIA

As boas esperanças suscitadas pela reforma dos descalços não se tornaram de tudo desilusão para o resto da Ordem com a separação de 1593. De fato, por mérito da chamada “reforma clementina”, isto é de Clemente VIII, comum a outras famílias religiosas, e especialmente reforma Touronense surgida na França no embalo entre os dois séculos, a mais “estrita observância” fez sentir o potente sopro da renovada espiritualidade.

Em Ennes, na província de Touraine, Pedro Behourt e, no estudo de Paris, Luís Charpentier e Felipe Thibault deram início ao movimento chamado de Reforma Tourunense (o nome é posterior). No capítulo provincial de 1604, presidido pelo prior geral Henrique Silvio, foi decidido de estendê-la a toda a província, e que de fato em 1619 tinha um vigário próprio e foi aprovada no capítulo geral do ano seguinte. O organizador foi o Pe. Thibault (1572-1638): penitente do cartuxo dom Beaucousin, ele se liga aos inícios da Escola Francesa e à “invasão mística”. Esteve por longo tempo pelo menos duas vezes com os carmelitas descalços, e portanto, pôde inspirar-se também neles, especialmente à organização da observância religiosa. No mais, para a instrução dos noviços em Rennes se usava o Stimulus compunctionis do carmelita descalço João de Jesus Maria. Um outro descalço Domingos de Jesus foi o censor dos estatutos de Rennes. Ele introduziu a reforma na província Flandro-Belga (1624, obra continuada depois pelos padres Martino de Hooghe e Livino da Santíssima Trindade) e na da Aquitânia (reformada pelo Pe. João Thuaut), em 1636 aceitou também as constituições reformadas elaboradas no mesmo ano sob a direção do Pe. Leão de São João. Tais constituições, em 1645, foram pedidas também pelas províncias da França e de Tolosa; a da Provença naquele ano também foi reformada com exceção de dois conventos; a de Narbona, em 1644, teve os seus estatutos compostos pelo cardeal Ginetti. O mestre espiritual da reforma foi o irmão converso cego João de São Sansão, cujo nome era João Moulin (1571-1636).

A reforma fez progressos também fora da França. Foi a Província Santo Alberto da Sicília a dar início à “mais estrita observância” com os padres Desidério Placa e Alfio Licandro. Em 1619 teve início em Catânia a reforma chamada de Primeiro Instituto ou de Monte Santo, inspirada na reforma dos descalços, aprovada em 1621 pelo prior geral Sebastião Fantoni (1612-23). Como já foi dito, para melhor viver a vida espiritual, esta quis pôr o acento sobre o espírito missionário, mas não obteve bons resultados, em parte devido a obstáculos surgidos fora dela.

Em Nápoles no ano 1623, por obra de alguns religiosos do Convento Carmine Maggiore, surgiu a reforma de Santa Maria da Vida. Foi reconhecida como província autônoma em 1660, abrangia 8 conventos. Entre seus filhos mais ilustres recorda-se: Daniel Scoppa, primeiro provincial; André Matelloni, grande pregador mariano; Eliseu Vassallo e os conversos Paulino Zabata, Pedro da Cruz (morto por contágio servindo aos apestados) e Estevão Pelosio, grande penitente.

A reforma de Piemonte[3] ou de Turim foi instituída em 1633 em Turim por Ludovico Bolla (+ 1635), que foi feito comissário pelo prior geral Teodoro Straccio (1631-42) e teve como sucessor Domingos de Santa Maria (1605-65). Os estatutos da reforma foram aprovados pelo vigário geral Alberto Massari em 1642 e pelo capítulo geral de 1645, e em 1671 foi erigida em província. A reforma, porém, não estava de toda estabelecida, tanto que o cardeal protetor Paluzzo Altieri dos Albertoni, em 1685, chamou da Aquitânia o Pe. Valentim de São João (1631-91). Entre seus homens ilustres se recorda: Jerônimo Aymo (1621-1705), provincial, o os dois priores gerais Jerônimo Aro (1660-66) e Paulo de Santo Inácio (1686-92). Sucederam-se vários contrastes e uma reforma na reforma, concluída em 1729.

No século XVIII aconteceu na Itália uma outra reforma, a de Santa Maria Escada do Paraíso, iniciada em Siracusa em 1724 por obra do Pe. Salvador Statella (1679-1728) e do venerável frei Jerônimo Terzo (1683-1758, processo apostólico 1793). Junto com outros 7 conventos, em 27 de julho de 1641 a Reforma foi erigida como província.

A reforma foi adotada também em outros lugares. Limitando-se às formas de vida organizada, recorda-se: em Portugal foi iniciada no convento de Santa Ana de Colares; no capítulo geral de 1686 se estabeleceu que se devia fazer estatutos especiais e que os reformados da província fossem chamados de “recoletos”. Pouco depois a reforma foi introduzida em Goiana (Pernambuco – Brasil) e se tornou província autônoma em 1744.

Na Alemanha trabalharam especialmente os padres Gabriel da Anunciação e José da Circuncisão. Em 1660 as duas províncias alemãs estavam reformadas. Também a Polônia teve uma província reformada.

Este movimento de “mais estrita observância”, na prática, foi suscitado pela Reforma Touronense, mas nem esta nem as outras se constituíram numa congregação autônoma. Tratava-se sobretudo de um espírito que se aceitava livremente e vivido dentro da Ordem. Tanto que, paralelamente à “mais estrita observância”, havia aquela comum, regulada também pelas constituições próprias, aprovadas no capítulo geral de 1625. O capítulo de 1645 se preocupou de tornar acessível todas as reformas as constituições da Touronense. Portanto foi elaborada uma nova redação (com introdução de algumas modificações desejadas pelo Papa Inocêncio X: os “artigos inocencianos”), impressa em 1650. Esta devia ser a base de todas, mas as reformas individuais podiam acrescentar estatutos particulares (denominados também como “leis municipais”), como já havia feito a província de Gasconha em 1639. Os 28 “artigos filipinos” (assim conhecidos porque foram dados pelo prior geral João Antonio Filippini, 1648-54) ditaram normas para a introdução da Touronense nas outras províncias.

Destas constituições resulta que a “mais estrita observância” pretendia renovar o espírito contemplativo da Ordem através da meditação diária, um maior retiro e solidão nas celas, o silêncio e a mortificação. De outro lado foram revogados os privilégios dos graduados e restaurada a perfeição da vida comum. Foi revogada também a “filiação” dos religiosos aos conventos individuais. Com isto os religiosos ficaram mais livres no âmbito da província.

Os dois corpos de constituições (para os reformados e para aos outros) permaneceram distintos até 1904, quando foram refeitas as constituições turonenses para toda a Ordem. Com a promulgação do CIC em 1917 as constituições foram readequadas ao código e aprovadas em 1930. A atualização pós-conciliar produziu as constituições de 1971. O novo CIC, publicado em 1983, provocou uma nova versão aprovada no capítulo geral de 1995.



VII. SÉCULOS XVII e XVIII

Se é lícito argüir a partir do elevado número de casas e religiosos, os séculos XVII e XVIII foram de intensas atividades para os carmelitas. Trabalhou-se especialmente pela expansão da devoção mariana através de escritos e dedicação às Ordens Terceiras e Confrarias do Escapulário do Carmo. Cada convento ou mosteiro carmelita tornou-se um centro de vida mariana. No início do século XVII havia 30 províncias e vicariados, com 693 conventos e mais de 12.000 religiosos. Os mosteiros femininos, sob a jurisdição da Ordem, eram 33 com mais ou menos 1.500 monjas (estes dados não incluem os descalços, visto que já tinham se separado no final do século anterior). A maioria dos conventos se encontrava na Itália, onde as outras ordens religiosas também eram numerosas. Portanto nem sempre era possível que a vida se desenvolvesse com garantia de segurança econômica indispensável para observância regular. Por isto em 1633 o prior geral Teodoro Straccio recebeu a faculdade de fechar os pequenos conventos e depois a Sagrada Congregação dos Religiosos, seguindo as decisões da Instaurandae regularis disciplinae de Inocêncio X, declarou supressos 217 conventos carmelitas na Itália, mas mais tarde 20 destes puderam continuar existindo sob a autoridade dos bispos como delegados da Santa Sé. Além destes, alguns foram fechados ou foram reabertos logo em seguida. Deste modo, dos 503 conventos que existiam em 1650, o número baixa para 322 em 1685. No século seguinte há um pequeno crescimento, ou seja, aumenta para 353 em 1765. Também na França, onde havia 7 províncias e um convento generalício com um total de 122 casas e 1691 carmelitas, em 1669 o prior geral Mateus Orlando (1666-74), a pedido de Clemente IX, fechou 19.

A atividade científica e literária nestes dois séculos registra notáveis nomes.

Nas Ciências Sacras (outros autores serão indicados quando a propósito da espiritualidade e doutrina mariana): os teólogos João Antonio Bovio (1566?-1622), bispo de Molfetta; Antonio Marinari Junior (1605-89); Pedro Tomás Cacciari (+ 1768); o biblista e canonista João da Sylveira (1592-1687) e João Batista de Lezana (1586-1659).

Na literatura: Gaudenzio Roberti (1655-95), fundador do «Giornale dei letterati» de Parma; Elias D’Amato (1668-1748), chamado «Tirinarco» na academia dos Incultos de Montalto da Calábria; Teobaldo Ceva (1697-1746); Agostinho Arcangelo (1661-1746), tradutor de 127 volumes do francês (com o pseudônimo de Selvaggio Canturani); Mariano Ruele (1699-?) na Arcádia «Gilasco Eutelidense»; José Maria Pagnini (1737-1814), na academia «Eritisco Pileneio», tradutor das línguas clássicas.

Na bibliografia: os franceses Ludovico Jacob (1608-70) e Cosme de Villiers (1683-?), cuja «Bibliotheca carmelitana» editada em 1752 continua sendo um indispensável repertório; os italianos Pellegrino Antonio Orlandi (1660-1727, autoridade também no campo da pintura) e João Batista Archetti (1700-65); o português Manuel de Sá (1674-1735); o belga Norberto de S. Juliana (1710-57).

Nas ciências naturais e matemáticas recordamos os astrônomos Pacífico Giuntini (1522-90); Paulo Antônio Foscarini (verdadeiro nome Scaridini, 1565ca-1616), ficou célebre por causa da sua «Lettera» publicada em Nápoles em 1615 defendendo as idéias de Galileu sobre a mobilidade da terra; o matemáticos Elias Del Re (+ 1733) e Elias Astorini (1651-1702) que entendia também de medicina, de filosofia e foi profundo controversista teológico.

Na música ou sua teoria: Alexandre Tadei (1585ca-1667); Lourenço Penna (1631-93); Jerônimo Filago Casati (1598-1677); Mateus Flecha (1530-1604); Manoel Cardoso (1570-1650) e Manoel Correa (+1657).

Cultores da história da Ordem: o já recordado João Batista de Lezana; Daniel da Virgem Maria (1615-78), autor do «Speculum carmelitanum»; Ludovico Pérez de Castro (1635-89); João Batista Guarguanti (1604-82); Carlos Vaghi (1644-1729); Mariano Ventimiglia (1703-90); Eliseu Monsignani (+ 1737) e José Alberto Ximenez (1719-80), editores — estes dois últimos — do «Bullarium carmelitanum»; Serafim Potenza (1697-1763); José Pereira de S. Ana (1696-1759).

A Ordem teve também — de 1600 à revolução francesa — cerca de 80 bispo e alguns servos de Deus cujos processos encontram-se na Congregação para as Causas dos Santos: Ângelo Paoli (1642-1720), o «Pai dos pobres» em Roma; Jerônimo Terzo (1683-1758), fundador do convento de Noto; João Domingos Lucchesi (1652-1714); Rosa Maria Serio de S. Antonio (1674-1726); Serafina de Deus (1621-99), que foi coordenadora de um grupo de mosteiros conhecidos também como «Congregação do SS. Salvador»; a terciária Ângela Maria Virgili (1662-1734).



VIII. SUPRESSÕES.

Em 1788, às vésperas da Revolução Francesa, a Ordem tinha 42 províncias e 3 vicariados (17 na Itália, 8 na França, 4 na Espanha, 5 na Europa central, 4 no Brasil, 3 na Alemanha, 2 na Valônia e Bélgica, 1 em Portugal e 1 na Irlanda), cerca de 780 conventos e 15.000 religiosos. A tempestade das supressões já estava no ar há tempo. Em 1768 o edito da República Vêneta continha pontos sobre a vida religiosa e no ano seguinte aconteceu o fechamento de conventos religiosos, entre os quais 12 carmelitas. Em 1717, na Baviera foi proibida a criação de novos conventos e no início de 1800 foram supressos todos. Em 1778 o príncipe eleitor de Mogúncia (Mainz) tirou do prior geral todos os poderes de jurisdição em seu território. Foi imitado pelo bispo de Worms e pelo imperador José II na Áustria e Bélgica. Também tomaram a mesma medida Leopoldo, irmão do imperador, na Toscana, e Ferdinando IV na Sicília em 1788. O rei da Sardenha Vitório Amadeu II pediu a união dos conventos em suas posses no continente (Piemonte). Esta situação, que não tinha nada a ver com problemas financeiros urgentes, determinou o pedido por parte da Ordem para que fossem supressas e unidas ao seu tronco as reformas de Piemonte, Monte Santo e Congregação Mantuana. Isto foi concedido pelo Papa Pio VI com a bula Exigit em 21 de março de 1783 (uma declaração sucessiva, datada 30 de setembro de 1785, esclarecia que a bula incluía também as províncias sicilianas de Monte Santo e da Escada do Paraíso).

Na França as 8 províncias com seus 130 conventos foram supressos em 1790 e os religiosos foram dispersos (vários sofrearam deportação ou foram mortos: o mais conhecido destes é o Pe. Martinho Pannittier, decapitado em Bordeaux em 21 de julho de 1794. Em 1925 foi iniciada a sua causa de beatificação). O convento de Paris foi usado como cárcere e lugar de execução de 113 sacerdotes de várias proveniências na “matança setembrina” de 1792.

Na Bélgica a supressão aconteceu em 1796, e em 1812 na Holanda, onde permaneceu reconhecido só o convento de Boxmeer, que, porém, até 1841 não podia receber noviços. A secularização na Alemanha aconteceu entre 1801 e 1803. Também ali só se permitiu a existência de um só convento, aquele de Straubing, mas com a proibição de receber noviços.

A idéias francesas, transportadas pelos soldados do exército de Napoleão, tiveram a sua influência também na Itália até se chegar à supressão em 1810. O prior geral Timóteo Maria Ascensi já tinha sido deportado para a França um ano antes.

Na Espanha, em 1772, o prior geral José Alberto Ximenez havia supresso 6 conventinhos para dar maior respiro aos outros. A pedido do rei Carlos IV, o Papa Pio VII, em 15 de maio de 1804, concedeu aos carmelitas espanhóis – mais numerosos do que em outros lugares, se dizia, e necessitados de renovada disciplina – um superior geral próprio com paridade de direitos como o outro para o resto da Ordem. Para se salvar a unidade se diria alternativamente a um prior geral e ao outro vigário. A supressão na península Ibérica aconteceu em 1832 em Portugal e em 1835 na Espanha, onde foram fechados 78 conventos.

Na Europa centro-oriental a província da Boemia foi danificada no tempo de José II; os 34 conventos da Volínia, Lituânia e Rússia Branca foram em grande parte supressos após a insurreição de 1832 e em 1863, permanecendo só 7 conventos da Galícia austríaca (estes também foram supressos mais tarde).

No Brasil, o imperador dom Pedro II, em 1855, proibiu a aceitação de noviços. Em 1890, das antigas e florescentes províncias só restavam 8 sacerdotes.

Conhecidíssimas são as supressões na Itália nos anos 1855-73. Dos 124 conventos carmelitas e cerca de 1.050 religiosos do ano 1850, em 1908 – portanto quando a restauração já tinha sido iniciada – havia 32 conventos com 212 religiosos; dos 82 conventos da Sicília só permaneceram 6, com os quais, em 1903, se pensou em erigir um comissariado.



IX. RESTAURAÇÃO E ESTATÍSTICA ATUAL.

Apesar das leis de supressão foi possível salvar aqui e ali algum convento, que foi a semente de restauração. Na Holanda se instituiu em 1879 uma província que abrangia também o convento alemão de Straubing. Em 1896 foi criado o Vicariado da Baviera. Na Espanha se recriou uma província em 1889, que em 1906 foi dividida em duas. Carmelitas bávaros, em 1864, lançaram nos Estados Unidos da América para uma província reconhecida como tal em 1889. Em 1896 na ilha de Malta foi erigida uma província. Na França não se conseguiu entrar: uma tentativa feita em Montpellier em 1878 foi anulada dois anos mais tarde por leis contrárias.

Muito ativa foi a província da Irlanda. Em 1881 alguns carmelitas irlandeses foram para a Austrália, outros, em 1889, partiram para Nova Yorque. Em 1926 re-introduziram a Ordem na Inglaterra (hoje Província Britânica), e em 1946 abriram missões na Rodésia (Zimbabwe)

Muito notável também foi a obra da província da Holanda. Em 1904 assumiu a restauração do Carmelo Brasileiro na Província do Rio de Janeiro; em 1923 abriu missões em Java (hoje província de Indonésia). Em 1924 retomou as fundações na região da Renânia alemã (erigida província em 1969) e em 1958 implantou a Ordem nas Filipinas (hoje Comissariado Geral).

Mais lenta foi a restauração na Itália, se considerarmos o seu antigo esplendor. Em 1909 a S. Congregação dos Religiosos consignou os conventos remanescentes das províncias da Sardenha e da Romanha para as províncias Romana e Toscana. Em 1987 deu-se início a um caminha em direção a criação de uma federação entre as províncias Romana, Toscana, Siciliana e o Comissariado de Vittorio Veneto, que em 1989 chegou a uma unificação formando uma nova entidade de uma única província chamada Italiana.

Na Espanha a restauração, iniciada em 1875, se propagou de Palma de Maiorca às várias regiões, sendo em 1889 erigida a província de Espanha, da qual posteriormente deu origem às atuais 4 províncias: Arago-Valentina, Bética, Catalunha e Castilha. Em 1894 deram início à restauração do Carmelo Brasileiro. Um duro golpe foi a guerra civil que ensangüentou a Espanha entre os anos 1936-39, ceifando a vida de 57 carmelitas. Porém, nos anos sucessivos se recompôs e se abriram missões na América Latina. Em 1930 começou a restauração em Portugal. A Ordem se refez também na Polônia, que contou com a ajuda espanhola.

Após a Segunda Guerra Mundial, que causou graves danos e destruição nos países da Europa, nos anos da reconstrução se nota na Ordem um novo impulso não só de ministério e de ciência, mas também a abertura de atividades missionárias propriamente ditas, especialmente na África, Ásia e América Latina. Em 1990 houve o retorno à França.

Em primeiro plano, oportunamente atualizadas segundo as diretrizes do Concílio Vaticano II, estão as atividades paroquiais e no campo da justiça e paz, unidas às formas tradicionais com o ensinamento, a pregação, os retiros espirituais, o culto mariano, a assistência espiritual às associações ligadas ao Carmelo, e outras formas em resposta às exigências das várias Igrejas locais e das terras de missões.

A Ordem tinha, em 31 de dezembro de 2005, 19 províncias, 3 comissariados gerais e 3 delegações gerais, distintas por sua vez em diversos grupos operativos chamados “Regio”. Os 1960 religiosos carmelitas estão presentes em 38 países dos cinco continentes. Os conventos e casas são 392.

O ramo feminino é representado por 872 monjas de clausura em 75 mosteiros e por 3.286 irmãs de 15 institutos de vida ativa com 417 comunidades.

Sobre os terciários e leigos que vivem sob a sombra do Carmelo se pode calcular um número aproximado de 3 milhões.

Como destaques individuais pode-se citar: o holandês frei Tito Brandsma, o “jornalista mártir” morto no campo de concentração de Dachau em 1942, e beatificado por João Paulo II em 1985; o polonês frei Hilário Januszewki (1907-1945), beatificado em 1999; o alemão frei João Brenninger (1890-1946), autor do célebre “Diretório espiritual” e morto em conceito de santidade; o catalão frei Bartolomeu Xiberta (1897-1967), eminente teólogo e experto no Concílio Vaticano II.

A Ordem mantém missões na Indonésia e na África e desenvolve atividades apostólicas em vários países da América Latina e nas Filipinas.

São 11 os bispos carmelitas na atualidade.

Promotor de estudos específicos da Ordem é o Institutum Carmelitanum (fundado em 30 de outubro de1951) em Roma, está sob a imediata jurisdição do prior geral. Seu órgão divulgativo é Carmelus (desde 1954). O órgão oficial da Ordem é a revista Analecta Ordinis Carmelitarum (fundada em 1909).

Casa generalícia e procura geral: via Giovanni Lanza, 138 - 00184 Roma.



Fonti e collezioni generali: G.B. de Cathaneis, Speculum Ordinis Fratrum Carmelitarum, Venezia 1507; I.B. de Lezana, Annales sacri et elioni Ordinis b.mae V. Marine de Monte Carmeli, IV, Roma 1656; Daniel a Virgine Maria, Vinea Carmeli seu historia eliani Ordinis, Anversa 1672; Id., Speculum carmelitanum, 2 vol. in 4 t., ivi 1680; Bullarium carmelitanum, ed. E. Monsignani-I.A. Ximenez, 4 vol., Roma 1715-68; C. Vaghi, Commentaria fratrum et sororum Ordinis b.mae Mariae V. de Monte Carmelo Congregationis Mantuanae, Parma 1725; C. de Villiers, Bibliotheca carmelitana, 2 vol., Orléans 1752 (ried. anastatica, Roma 1927); M. Ventimiglia, Historia chronologica priorum generalium latinorum Ordinis B.V. Mariae de M. Carmelo, Napoli 1773 (ried. Anastatica, Roma 1929); Id., Il sacro Carmelo italiano, ivi 1779; B. Zimmerman, Monumenta historica carmelitana, Lirinae 1907; Acta capitulorum generalium Ordinis Fratrum B.V. Mariae de M. Carmelo, ed. G. Wessels, 2 vol., Roma 1912-34; B. Xiberta, De scriptoribus scholasticis saec. XIV ex Ordine Carmelitarum, Lovanio 1931 (Bibliothèque de la Revue d’histoire ecclésiaslique 6); Norbertus a S. Iuliana, Batavia desolata carmelitana, sive notitia conventuum Fratrum Ordinis B. Mariae V. de M. Carmelo in foederato Belgio olim sitorum, in AnalOC 8 (1932-6)371-584; Antoine-Marie de la Présentation, Le Carmel en France, 7 vol., Toulouse 1936-9; Ambrosius a S. Theresia, Monasticon carmelitanum, seu lexicon geographicum-historicum omnium fundationum universi Ordinis Carmelitarum, in AnalOCD 22 e 23 (1950 e 1951), a puntate; L. Saggi, La Congragazione Mantovana dei Carmelitani sino alla morte del b. Battista Spagnoli (1516), Roma 1964 (Textus et studia historica carmelitana 1); A. Staring, Der Karmelitengeneral Nikolaus Andet und die katholische Reform des XVI. Jahrhunderts, Roma 1959 (Textus et studia historica carmelitana 3); P.W. Janssen, Les origenes de la réforme des C. en France au XVIIe siècle, L’Aja 1963. 19692. (Archives internacionales d’histoire des idées 4); O. Steggink, La reforma del Carmelo Español, la visita canónica del general Rubeo y su encuentro con Santa Teresa (1566-67), Roma 1965 (Textus et studia historica carmelitana 7); L. van Wijmen, La Congrégation d’Albi (1499-1602), Roma 1971 (Textus et studia historica carmelitana 11); C. Cicconetti, La regola del Carmelo; origine, natura, significato, Roma 1973 (Textus et studia historica carmelitana 12). Vari studi o indicazioni di essi nelle riviste AnalOC; Carmelus (nel cui II fasc. di ogni anno, abbondante bibl.); EphC (dei Carmelitani scalzi, ma spesso vi sono studi riguardanti ambedue i rami dell’Ordine); Archivum bibliographicum carmelitanum. Roma 1956- (anche questo degli Scalzi, ma con indicazioni valide per tutto l’Ordine); Carmel (Olanda) 1948-68, poi sostituito da Speling; The Sword, Downers Grove, III. USA, 1937-. — StatOrdCongr, p. 8-9, nº 30; AnnPont 1974, p. 1154. Saggi, s. v. Carmelitani Storia, in DIP, II, 460-476. Oltre alla bibliografia ivi indicata cf.: J. Smet, O.Carm., The Carmelites, A History of the Brothers of Our lady of Mout Carmel, 4 voll. in 5 tomi, Darien Ill., Carmelite Spiritual Center, 1975-1985 (tradotto in varie lingue: spagnolo, olandese, polacco, tedesco; l’edizione italiana, curata dal centro Stampa della provincia d’Italia e dall’Institutum Carmelitanum di Roma, presenta aggiornamenti bibliografici e appendici proprie); E. Boaga, O.Carm., Come pietre vive ... per leggere la storia e la vita del Carmelo, Roma, Institutum Carmelitanum, 1993 (esiste anche edizione in portoghese, spagnolo e in preparazione inglese e francese).

L. saggi








NOTAS



[1] Dizionario degli Istituti di Perfezione, vol. II col. 460-521, Edizioni Paoline, Roma 1975. Alguns dados foram atualizados por Emanuel Boaga e Wilmar Santin. Tradução: Frei Wilmar Santin, O.Carm.
[2] A Peste Negra foi uma epidemia que atingiu a Europa, a China, o Oriente Médio e outras regiões do Mundo durante o século XIV (1347-1350), matando um terço da população da Europa e proporções provavelmente semelhantes nas outras regiões. A peste não só dizimou a população como largamente destruiu a brilhante civilização européia da baixa Idade Média, da construção das catedrais e do Feudalismo, que foi substituída pela bastante diferente civilização das Descobertas e do Renascimento, logo que a população voltou a crescer.
A Peste na Europa
A peste responsável pela epidemia do século XIV surge durante o cerco à colônia de Gênova, Caffa, na Criméia (Ucrânia), em Outubro de 1347 pelos Tatares (um povo mongol ou túrquico) auxiliados pelos venezianos. A peste matou tantos tatares que foram obrigados a retirar-se, mas não sem contaminar a cidade. Nesta morreram tantos habitantes que tiveram de ser queimados em piras, já que não havia mão de obra suficiente para os enterrar. Constantinopla terá sido infectada na mesma altura. Vários navios genoveses fugiram da peste, indo atracar aos portos de Messina, Gênova, Marselha e Veneza, com os porões cheios dos cadáveres dos marinheiros. A transmissão terá sido feita pelos ratos pretos de Caffa, que transmitiram as suas pulgas infectadas aos ratos destas cidades. Assim se explica que apesar de algumas cidades terem recusado os navios, tenham sido infectadas igualmente, já que os ratos escapavam pelas cordas da atracagem. ".
Assim descreve Bocaccio os sintomas: "Apareciam, no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou nas axilas, algumas inchações. Algumas destas cresciam como maçãs, outras como um ovo; cresciam umas mais, outras menos; chamava-as o povo de bubões. Em seguida o aspecto da doença começou a alterar-se; começou a colocar manchas de cor negra ou lívidas nos enfermos. Tais manchas estavam nos braços, nas coxas e em outros lugares do corpo. Em algumas pessoas as manchas apareciam grandes e esparsas; em outras eram pequenas e abundantes. E, do mesmo modo como, a princípio, o bubão fora e ainda era indício inevitável de morte, também as manchas passaram a ser mortais".
Uma das maiores dificuldades era dar sepultura aos mortos: "Para dar sepultura a grande quantidade de corpos já não era suficiente a terra sagrada junto às Igrejas; por isso passaram-se a edificar Igrejas nos cemitérios; punham-se nessas Igrejas, às centenas, os cadáveres que iam chegando; e eles eram empilhados como as mercadorias nos navios".
Em Avignon, na França, vivia Guy de Chauliac, o mais famoso cirurgião dessa época, médico do Papa Clemente VI. Chauliac sobreviveu à peste e deixou o seguinte relato: "A grande mortandade teve início em Avignon em janeiro de 1348. A epidemia se apresentou de duas maneiras. Nos primeiros dois meses manifestava-se com febre e expectoração sanguinolenta e os doentes morriam em 3 dias; decorrido esse tempo manifestou-se com febre contínua e inchação nas axilas e nas virilhas e os doentes morriam em 5 dias. Era tão contagiosa que se propagava rapidamente de uma pessoa a outra; o pai não ia ver seu filho nem o filho a seu pai; a caridade desaparecera por completo". E continua: "Não se sabia qual a causa desta grande mortandade. Em alguns lugares pensava-se que os judeus haviam envenenado o mundo e por isso os mataram".
No meio de tanto desespero e irracionalidade, houve alguns episódios edificantes. Muitos médicos se dispuseram a atender os pestosos com risco da própria vida.. Adotavam para isso roupas e máscaras especiais. Alguns dentre eles evitavam aproximar-se dos enfermos. Prescreviam à distância e lancetavam os bubões com facas de até 1,80 m de comprimento.
Da Itália a doença espalhou-se pelo resto da Europa, atingindo a Grã-Bretanha e Portugal em 1348 e finalmente a Escandinávia em 1350. Algumas zonas foram inexplicavelmente poupadas, como Milão e a Polônia.
Em Portugal a peste entrou no Outono de 1348. Matou entre um terço e metade da população, segundo as estimativas mais credíveis, e entretanto reduziu a Nação ao caos. Foram inclusivamente convocadas as Cortes em 1352 para restaurar a ordem...On line: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Peste_negra > (27/11/2006)
[3] A primeira presenza carmelitana na atual região do Piemonte remonta à segunda metade do século XIII, quando os frades do Carmelo chegaram em Asti. Ali, em 1250, contruíram uma pequena igreja fora da cidade. Em 1269 se transferiram para o borgo Rilaio e em 1335 para o beco S. Maria Nova, onde reconstruíram a igreja e deram o nome de “Carmine”.
Fundaram depois os conventos de Vercelli (1275), Bassignana (1378), Incisa (1412), Novara (1421 ou 1479), Moncalieri (1422), Cremolino (1459), Dogliani (1480), Pino Torinese (1490), Racconigi (1493), Vinovo (1498), Colletto (1506), Rivoli (1511), Torino (1524), Cherasco (1527) e Alessandria (1589). Todos estes conventos pertenciam à Província da Lombardia, que se estendia nas regiões de Piemonte, Lombardia e Ligúria, e no início do século XVII tinha 36 conventos e 840 religiosos.
A Congregação Mantuana fundou em teritório pemontês 3 conventos: Casale Monferrato (1503), Furbine (1620) e Trino (1474). Em Trino houve também um mosteiro de monjas carmelitas fundado em torno de 1493.
O conventos carmelitas do Piemonte foram supressos entre 1799 e 1810 pela onda napoleônica e pela ação do reino da Itália do Norte.