I. ORIGENS E DESENVOLVIMENTO
INICIAL.
Os carmelitas surgiram dos
cruzados estabelecidos no Monte Carmelo da Galiléia no século XII. Ali estão no
início do século seguinte “ao exemplo e imitação do santo e solitário homem
Profeta Elias, junto à fonte que de Elias leva o nome, em cubículos como
colméias, onde como abelhas colhiam o mel divino da doçura espiritual” (Jacques de Vitry, Historia Orientalis, c. LII). Tanto na
época como depois, os carmelitas nunca deram a alguém em particular o título de
fundador, permanecendo fiéis ao modelo de Elias, ligado ao Monte Carmelo pelo
episódio narrado em 1Rs 18, 20-45 (sacrifício e nuvenzinha) e pela tradição
patrística greco-latina. Construíram uma capela e a dedicaram a Maria, Mãe de
Jesus. Isto fez com que surgisse neles o sentimento de pertença a Nossa Senhora
como Senhora do Lugar. Dela tomaram o nome e a ela deram os atributos dados ao
fundador e padroeiro. Em seguida o elemento mariano foi enriquecido. A “forma de
vida” – de acordo com o “propositum” manifestado pelos eremitas – foi dada num
ano não sabido entre 1206 e 1214 pelo patriarca de Jerusalém Santo Alberto. Ele,
porém, residia em São João de Acre. Antes de ir para a Terra Santa, tinha sido
bispo de Vercelli. Parece que, por causa das conhecidas restrições do IV
Concílio do Latrão, se julgou oportuno também pedir a confirmação pontifícia.
Esta foi concedida pelo Papa Honório III em 30 de janeiro de 1226. Depois foi
confirmada mais vezes até se tornar verdadeiramente uma própria regra. Os Papas
conduziram a Ordem do Carmo em direção ao movimento dos Mendicantes, quando foi
necessária a transferência para o Ocidente por causa de instável situação
política na Palestina. O Papa Inocêncio IV, servindo-se de dois dominicanos,
adaptou a regra (a pedido de um capítulo geral da Ordem) e a confirmou
definitivamente no dia 1º de outubro de
1247.
A Ordem foi erradicada da Terra
Santa com a caída do reino latino (1291). Os conventos existentes na Palestina:
do Monte Carmelo, de São João de Acre e de Tiro desapareceram. No entanto
permaneceram com o título de Província da Terra Santa os conventos da ilha de
Chipre até 1571.
No final do século XIII a Ordem
se tinha estendido pela Europa. Contava com cerca de 150 casas, agrupadas em 12
províncias. Sofreu dificuldades internas de adaptação. Nicolau Gálico, que foi
prior geral depois da metade do século, tentou reconduzir os carmelitas à vida
puramente eremítica. Neste sentido, é célebre a sua Ignea Sagitta de 1270-71. Mas também
houve dificuldades externas devido ao ambiente contrário aos Mendicantes e à
decisão do II Concílio de Lyon (1274) de tolerar os carmelitas até nova decisão.
O Papa Honório IV os confirmou na prática, e pouco depois foram confirmados de
direito pelos papas Bonifácio VIII (05/05/1298) e João XXII (13/03/1317 e
21/11/1326). Esta última data assinala a extensão aos Carmelitas da bula Super cathedam, já concedida aos
franciscanos e dominicanos.
A história da Ordem se articula
na obra de mais ou menos 130 capítulos gerais (o número não é de todo seguro
devido às incompletas informações relativas ao século XIII) e de mais de 90
entre priores gerais e vigários gerais apostólicos. Nos século XIV e XV a Ordem
seguiu nas grandes linhas as vicissitudes das outras Ordens Mendicantes: o
florescimento dos estudos, o enfraquecimento do espírito religioso causado pelas
calamidades em geral (peste negra (1347-1350), cisma
do Ocidente, “claustralidade”). O esforço de restauração através dos santos e
dos movimentos de “observância” mais ou menos
vastos.
Em relação aos estudos, quando
os carmelitas apareceram na Europa as várias escolas já estavam formadas. Foram
bastante ecléticos e não tiveram até o século XIV prescrições precisas da cúpula
da Ordem. Recordamos os nomes de Gerardo de Bolonha (1240-1317), que foi o
primeiro mestre parisiense da Ordem e prior geral (1297-1317); Roberto Walsingham (+ após 1312): Guido
Terreni (1270 - 21.8.1342), prior general (1318-21), depois bispo de Maiorca
(1321-32) e Elne (1332-42); Siberto di Beka (1260/70-1322?), o primeiro grande
liturgista da Ordem; João Baconthorp (1290?-1348) que interpretou Averróis;
Osberto Anglico; Paulo de Perugia (+1344+); Miguel Aiguani
(1320+-1400) exegeta, prior general (1380-6); Francisco de Bacon
(+1372?); João Brammart (+1407), cofundador da universidade de Colônia;
Francisco Martí; Tomás Netter ou Walden (+1431), conselheiro, pregador e
confessor de Henrique IV, V, e VI da Inglaterra, por Martinho V foi chamado de
«validus ensis Ecclesiae» por causa
de seus escritos contra Wicliff (Doctrinale antiquitatum fidei Ecclesiae
catholicae, 3 vol.).
Os movimentos de reforma
organizados tiveram início logo após a reconstrução da unidade da Ordem
(Capítulo geral de 1411), que seguiu ao cisma. Foi a “Observância das Selvas”,
surgida no convento homônimo junto a Florença em 1412-3, depois uniu-se às
reformas dos conventos de Gironda na Suíça e de Mântua e se tornou a Congregação
Mantuana, aprovada pelo Papa Eugênio IV em 03/09/1442. Esta prometia a
restauração do fervor da vida em comum, renunciando também à mitigação da regra
concedida por Eugênio IV em 1435 (a data oficial no entanto é 15/02/1432), mas
manteve este ponto só por uns 20 anos. No período de maior expansão teve 53
conventos e mais de 700 religiosos e em torno de 15 mosteiros femininos. Entre
os seus homens mais ilustres, recordamos: o beato Ângelo Agostinho Mazzinghi de
Florença (+17.8.1438, beatificado em 1721); beato Bartolomeu Fanti de Mântua
(+1495, beatificado em 1909); beato Battista Spagnoli, também de Mântua
(1447-1516, beatificado em 1885), seis vezes vigário general da Congregação e
três anos prior general de toda Ordem, insigne humanista (mais de 50.000 versos
latinos e outras obras em prosa), chamado por Erasmo como o Virgílio cristão;
beata Joana Scopelli (+9.7.1491, beatificada em 24.8.1771), fundadora do
mosteiro de Reggio Emília; beata Arcângela Girlani (+25.1.1495, beatificada em
1º.10.1864), fundadora do mosteiro de Mântua; Alberto Leoni da Revere
(1563ca-1642), reformador dos conventos de Castellina e das Selvas (ambos perto
de Florença) e em Florença instituidor da «Obra dos catecúmenos» para a
conversão de hebreus e outros, e precursor da obra benefício aos dementes; João
Domingos Lucchesi (1652-1713), grande penitente. A Congregação Mantuana teve
freqüentes controvérsias com o prior geral da Ordem por causa da visita
canônica, especialmente nos dois primeiros séculos de existência. Fui reunida ao
antigo tronco da Ordem pelo Papa Pio VI em
1783.
Outro movimento de observância
foi na França a Congregação Albiense,
iniciada em 1499 com elementos da Congregação Mantuana por obra do bispo de
Albi, Luís d’Amboise. Foi aprovada pelo Papa Leão X em 15/09/1513 e suprimida
pelo Papa Gregório XIII em 1º/05/1584, mas durou na prática até 1602. Teve
poucos conventos e esteve quase sempre em luta com os superiores gerais da
Ordem. Não se destacou pelo espírito interior devido às condições gerais da
França na segunda metade daquele século.
Ente os conventos
individualmente que abraçaram vida mais austera deve-se ressaltar o de Monte Oliveto, perto de Gênova, fundado
por Hugo Marengo – que também pertenceu à Mantuana – com a licença do Papa Leão
X em 02/08/1516. Mais tarde passou à imediata dependência do prior geral e
depois à Província Lombarda.
Até este período floresceram
almas santas também fora dos movimentos oficiais de reforma. Pode-se indicar:
Santo Alberto de Sicília (+1307, culto reconhecido em 1457 e 1476), considerado
o «pai da Ordem» porque é o primeiro de seus santos; Santo André Corsini
(1315?-1374, beatificado em 1440, canonizado em 1629), bispo de Fiésole
(1349-74); São Pedro Tomás (1305+-66), bispo
sucessivamente de Patti e Lipari, de Coron na Moréia, de Creta, patriarca de
Constantinopla, legado da Santa Sé em várias cortes da Europa e do Médio
Oriente, negociador da reunião dos Gregos com Roma, principal fundador da
faculdade teológica de Bolonha (1364), chefe espiritual da cruzada promovida por
Pedro de Lusignano (1365); beato Franco de Sena (+1291?), grande penitente;
beato Nuno Álvares Pereira (1360-1431, beatificado em 1918), Grande Condestável
e herói nacional português, cujas façanhas foram cantadas nos «Lusíadas» de Luís
de Camões, depois «donato» carmelita; beato Giacomino da Crevacuore (+3.3.1508,
beatificado 3.3.1845), converso; beato Luís Rabatá (+1490, beatificado em 1841)
prior do convento de reforma de Randazzo na Sicília, celebrado pelo perdão das
ofensas; beata Francisca d’Amboise (1427-85, beatificada em 1863), duquesa da
Bretanha, depois carmelita, fundadora do mosteiro de Bon Don (as primeiras
carmelitas na França). Para o século XV vai recordado o prior general beato João
Soreth (1394+-1471, beatificado em 1866), que, sob a base da regra
mitigada pelo Papa Eugênio IV, organizou nas províncias um vasto movimento de
reforma, que tomou dele o nome.
Também para os carmelitas a
questão principal por longo tempo foi a da reforma. As tentativas do século XV
produziram notáveis frutos, mas não sempre duradouros. No século seguinte se
dedicaram a este problema os grandes priores gerais Nicolau Audet (1481+ - 1562), João Batista Rossi (1507-78) e João
Batista Caffardo (+1592).
Audet, prior geral de 1523 a
dezembro de 1562, percebeu que a responsável última pela situação da Ordem era a
Cúria Roma, sobretudo por causa da praxe das dispensas que anulava na prática
toda tentativa séria de reforma. Uniu-se como os superiores gerais das outras
Ordens (foi amicíssimo de Seripando, dos agostinianos) para uma ação comum.
Contribuiu para manter vivo o problema que em parte pôde ser resolvido ainda
antes do término do Concílio de Trento. No interior da Ordem promoveu a
restauração da perfeita vida comum, da clausura, da pobreza, da cura dos
doentes, da observância litúrgica, da formação dos noviços e do progresso nos
estudos, da prevenção e cura dos efeitos negativos da doutrina
protestante.
III.
A REFORMA TERESIANA.
A obra de Audet foi retomada –
em melhores condições devido à publicação da reforma tridentina – pelo sucessor
João Batista Rossi (ou Rubeo) de Ravena (1562-78). Ele se encontrou diante às
dificuldades de crescimento da Reforma de Santa Teresa, iniciada no ramo
feminino com a fundação do mosteiro de São José em Ávila no ano 1562 e no ramo
masculino com a abertura do primeiro convento em Duruelo no ano
1568..
A reforma promovida por Audet
visava a restauração das antigas prescrições e se pode dizer que ainda mantinha
sua inspiração medieval. Mas a insatisfação explodida com tanta violência na
Igreja tinha fundamento também na transformação dos tempos, que também devia ser
levada em conta. Por isto surgiram vária formas novas de vida religiosa ou
reformas das antigas Ordens. Pretendia-se dar uma alma mais profunda às várias
prescrições de caráter externo, algumas das quais foram até mesmo agravadas.
Tratava-se de uma nova fórmula, pelo menos na interpretação, que para muitos
parecia a única válida e para vivê-la mais intensamente foram tentadas também
perigosas aventuras.
O Prior Geral Rossi captou o
espírito formador deste novo curso e o exaltou, desejando que se tornasse o
fermento para toda a Ordem. Em abril de 1567 ele se encontrou com Santa Teresa
de Ávila e a exortou a fundar tantos mosteiros femininos “quantos os cabelos que
tinha na cabeça”. Quanto aos religiosos, já antes que Santa Teresa projetasse a
extensão da sua reforma ao ramo masculino (para que as monjas “descalças”
pudessem ter ajuda espiritual dos seus confrades), o prior geral Rossi tinha
favorecido várias tentativas de maior interiorização da vida, seja na Itália
como na Espanha. Quanto aos conventos dos descalços, ele permitiu, em 10 de
agosto de 1567, que se abrissem dois. Nestes os “contemplativos” deviam
permanecer sempre sujeitos à obediência do provincial de Castilha. Sobre o
número dos conventos ele próprio autorizou o seu aumento, mas em relação ao
território manteve a exclusão (datada em 1567 quando tinha faculdade apostólica)
da Andaluzia por motivos objetivamente graves. Surgiu um sério “conflito de
jurisdição”, sobretudo por causa do visitador apostólico, o dominicano Francisco
Vargas, que queria casa dos descalços na Andaluzia, e do núncio Nicolau
Ormaneto. O conflito teve fases dramáticas, em particular depois que o capítulo
geral de Piacenza de 1575, com autoridade apostólica, impôs o fechamento dos
conventos andaluzes, e o núncio Ormaneto ajudou a quem se opôs a tal decisão. Um
episódio da controvérsia, porém, materialmente ligado principalmente a fatos
acontecidos no mosteiro da Encarnação em Ávila, foi o encarceramento de São João
da Cruz no convento de Toledo, de onde conseguiu fugir nove meses mais tarde
(dezembro de 1577 a agosto de 1578). O conflito terminou no momento em que os
descalços obtiveram a província separada (breve Pia consideratione de 22 de junho de
1580, atuada no capítulo de Alcalá de 3 de março de 1581). O prior geral Rossi
já tinha morrido e o seu substituto era João Batista Caffardo (1578-92), que
manteve boas relações com os descalços. Ele, além disso, trabalhou na execução
dos decretos tridentinos. No capítulo geral de Cremona de 1593 (quando foi
eleito João Estêvão Chizzola), os descalços obtiveram a separação jurídica do
velho tronco. Neste meio tempo tinham elaborado constituições próprias e tinha
deixado o rito da Ordem pelo Romano, conseguindo um próprio procurador junto ao
Papa (breve Quae a praedecessoribus,
de 20 de setembro de 1586), e tinham se reunido em Congregação (breve Cum de statu de 10 de julho de 1587),
compreendendo 5 províncias e governada pela rígida “Consulta” de 7 pessoas, das
quais a principal teve Nicolau Doria como
vigário.
IV.
OS EFEITOS DA REFORMA PROTESTANTE.
Fora da Itália e da Espanha, os
efeitos foram graves. No final do século XVI, no capítulo de 1593, devia-se
nomear 6 provinciais “titulares”, em vez dos efetivos para as províncias que
tinham sido destruídas: Saxônia, Boêmia, Dácia (países bálticos), Inglaterra,
Escócia e Irlanda. Nomeou-se também o provincial titular da Terra Santa, visto
que a Província de Chipre (herdeira do título) tinha se perdido com a tomada da
ilha por parte dos turcos em 1571. Graves foram também os danos nas províncias
que conseguiram se manter em pé, ou seja, as duas das Alemanha (Inferior e
Superior) e as sete da França, onde foram destruídos 20 convento e mortos vários
religiosos.
No início da reforma protestante
vemos os carmelitas Teodoro de Gouda na universidade de Colônia, Nicolau
Edmundano e João van Paeschen na de Lovaina, empenhados na luta contra Erasmo e
inovadores. Valiosos defensores da ortodoxia na Alemanha foram particularmente
André Stoss (1477?-1540), provincial da Província Germaniae Superioris a partir
de 1529, e Everardo Billick (1500+-57), de 1542 provincial da Província
Germaniae Inferioris. Este último participou dos colóquios de Regensburgo e
Ausburgo (1547s) e em julho de 1547 foi encarregado por Carlos V da pacificação
religiosa. Na Dinamarca o último e grande defensor da Igreja Católica foi o
carmelita frei Paulo Elias, eleito provincial em 1522 (+ 1534?), polemista e
conselheiro dos bispos católicos. Na França se distinguiram os provinciais
Mateus Lelande (da França), Alberto Jeannin (de Narbona) e Vital de Luperia (da
Gasconha). Na Itália, Gian Maria Verrati, da Congregação Mantuana, defendeu a
doutrina católica com numerosos escritos.
A contribuição dos carmelitas no
Concílio de Trento nos seus três períodos foi no total em torno de 40
participantes, entre padres e teólogos. Os efeitos do protestantismo na Itália
foram bastante modestos, também por mérito das disposições adotadas nos
capítulos da Congregação Mantuana de 1527 e 534 e no capítulo geral da Ordem de
1548.
As perdas causadas pelo
protestantismo foram em parte compensadas pelo aumento das casas na Itália (até
de modo exuberante, tanto que o Papa Clemente VIII, em 1592, autorizou o prior
geral de suprimir os conventos que causavam preocupações) e no Novo Mundo,
especialmente no Brasil (onde em 1606 havia 99 religiosos carmelitas em 6
conventos). A expansão na “Índias Ocidentais”, mais que um intento missionário
(não excluído, antes positivamente previsto), foi querida como forma normal de
apostolado e um modo de defender a devoção a Nossa
Senhora.
Grandes foram as dificuldades
encontradas na América espanhola. Parece que, no início, se tratava de
iniciativas individuais. O primeiro carmelita, que se sabe, a trabalhar nas
Américas foi Gregório de Santa Maria junto com Francisco de Montejo em Yucatán
no ano 1527. Houve conventos no Panamá por volta de 1535, em Nova Granada
(Colômbia) em torno de 1560 e em Santa Fé de Bogotá em 1569. No tempo do prior
geral Rossi vagavam pelas Américas religiosos carmelitas por vários motivos. Ele
tentou fazer com que se juntassem e vivessem em convento. O Pe. Antonio Vásquez
de Espinosa (+1630) trabalhou nas missões e viajou pela América Latina
“descobrindo novos países” e escrevendo depois no livro Compendio y descripción de las Indias
Occidentales (editado muitas vezes, também em versão inglesa em 1942)
notícias da geografia, botânica, antropologia, história civil e eclesiástica da
América espanhola. A partir de 1588, a Coroa da Espanha pôs repetidamente
obstáculos à presença carmelita e por fim ordenou que os carmelitas abandonassem
as suas fundações e voltassem pra a pátria, alegando como motivo que tinham
fundado conventos sem licença e que davam escândalos recolhendo esmolas, mesmo
se o objetivo era de piedade. As autoridades locais, ao contrário, elogiavam a
sua atuação.
Mais livre foi a ação no Brasil,
onde os carmelitas foram oficialmente convidados a ir em 1579 pelo cardeal
Infante Henrique. Os quatro carmelitas foram ao Brasil no ano seguinte. Com o
tempo formaram 3 províncias religiosas.
Notáveis também foram os
resultados obtidos nas Antilhas pela Reforma de Touraine nas missões começadas
em 1646 e duraram até o tempo da Revolução
Francesa.
Na Itália a reforma de Monte
Santo ou Primeiro Instituto surgiu com um objetivo missionário, mas as suas
tentativas de abrir missões na Palestina, em Chipre e na Pérsia faliram.
Conseguiu só fazer trabalhar alguns religiosos na Dalmácia, na região de
Sebenico, por um período de mais ou menos 20
anos.
VI. A
MAIS ESTRITA OBSERVÂNCIA
As boas esperanças suscitadas
pela reforma dos descalços não se tornaram de tudo desilusão para o resto da
Ordem com a separação de 1593. De fato, por mérito da chamada “reforma
clementina”, isto é de Clemente VIII, comum a outras famílias religiosas, e
especialmente reforma Touronense surgida na França no embalo entre os dois
séculos, a mais “estrita observância” fez sentir o potente sopro da renovada
espiritualidade.
Em Ennes, na província de
Touraine, Pedro Behourt e, no estudo de Paris, Luís Charpentier e Felipe
Thibault deram início ao movimento chamado de Reforma Tourunense (o nome é posterior).
No capítulo provincial de 1604, presidido pelo prior geral Henrique Silvio, foi
decidido de estendê-la a toda a província, e que de fato em 1619 tinha um
vigário próprio e foi aprovada no capítulo geral do ano seguinte. O organizador
foi o Pe. Thibault (1572-1638): penitente do cartuxo dom Beaucousin, ele se liga
aos inícios da Escola Francesa e à “invasão mística”. Esteve por longo tempo
pelo menos duas vezes com os carmelitas descalços, e portanto, pôde inspirar-se
também neles, especialmente à organização da observância religiosa. No mais,
para a instrução dos noviços em Rennes se usava o Stimulus
compunctionis do carmelita descalço João
de Jesus Maria. Um outro descalço Domingos de Jesus foi o censor dos estatutos
de Rennes. Ele introduziu a reforma na província Flandro-Belga (1624, obra
continuada depois pelos padres Martino de Hooghe e Livino da Santíssima
Trindade) e na da Aquitânia (reformada pelo Pe. João Thuaut), em 1636 aceitou
também as constituições reformadas elaboradas no mesmo ano sob a direção do Pe.
Leão de São João. Tais constituições, em 1645, foram pedidas também pelas
províncias da França e de Tolosa; a da Provença naquele ano também foi reformada
com exceção de dois conventos; a de Narbona, em 1644, teve os seus estatutos
compostos pelo cardeal Ginetti. O mestre espiritual da reforma foi o irmão
converso cego João de São Sansão, cujo nome era João Moulin
(1571-1636).
A reforma fez progressos também
fora da França. Foi a Província Santo Alberto da Sicília a dar início à “mais
estrita observância” com os padres Desidério Placa e Alfio Licandro. Em 1619
teve início em Catânia a reforma chamada de Primeiro Instituto ou de Monte Santo, inspirada na reforma dos
descalços, aprovada em 1621 pelo prior geral Sebastião Fantoni (1612-23). Como
já foi dito, para melhor viver a vida espiritual, esta quis pôr o acento sobre o
espírito missionário, mas não obteve bons resultados, em parte devido a
obstáculos surgidos fora dela.
Em Nápoles no ano 1623, por obra
de alguns religiosos do Convento Carmine Maggiore, surgiu a reforma de Santa Maria da Vida. Foi reconhecida
como província autônoma em 1660, abrangia 8 conventos. Entre seus filhos mais
ilustres recorda-se: Daniel Scoppa, primeiro provincial; André Matelloni, grande
pregador mariano; Eliseu Vassallo e os conversos Paulino Zabata, Pedro da Cruz
(morto por contágio servindo aos apestados) e Estevão Pelosio, grande
penitente.
A reforma de Piemonte ou de Turim foi instituída em 1633 em Turim
por Ludovico Bolla (+ 1635), que foi feito comissário pelo prior geral Teodoro
Straccio (1631-42) e teve como sucessor Domingos de Santa Maria (1605-65). Os
estatutos da reforma foram aprovados pelo vigário geral Alberto Massari em 1642
e pelo capítulo geral de 1645, e em 1671 foi erigida em província. A reforma,
porém, não estava de toda estabelecida, tanto que o cardeal protetor Paluzzo
Altieri dos Albertoni, em 1685, chamou da Aquitânia o Pe. Valentim de São João
(1631-91). Entre seus homens ilustres se recorda: Jerônimo Aymo (1621-1705),
provincial, o os dois priores gerais Jerônimo Aro (1660-66) e Paulo de Santo
Inácio (1686-92). Sucederam-se vários contrastes e uma reforma na reforma,
concluída em 1729.
No século XVIII aconteceu na
Itália uma outra reforma, a de Santa
Maria Escada do Paraíso, iniciada em Siracusa em 1724 por obra do Pe.
Salvador Statella (1679-1728) e do venerável frei Jerônimo Terzo (1683-1758,
processo apostólico 1793). Junto com outros 7
conventos, em 27 de julho de 1641 a Reforma foi erigida como
província.
A reforma foi adotada também em
outros lugares. Limitando-se às formas de vida organizada, recorda-se: em Portugal foi iniciada no convento de
Santa Ana de Colares; no capítulo geral de 1686 se estabeleceu que se devia
fazer estatutos especiais e que os reformados da província fossem chamados de
“recoletos”. Pouco depois a reforma foi introduzida em Goiana (Pernambuco –
Brasil) e se tornou província autônoma em 1744.
Na Alemanha trabalharam especialmente os
padres Gabriel da Anunciação e José da Circuncisão. Em 1660 as duas províncias
alemãs estavam reformadas. Também a Polônia teve uma província
reformada.
Este movimento de “mais estrita
observância”, na prática, foi suscitado pela Reforma Touronense, mas nem esta
nem as outras se constituíram numa congregação autônoma. Tratava-se sobretudo de
um espírito que se aceitava livremente e vivido dentro da Ordem. Tanto que,
paralelamente à “mais estrita observância”, havia aquela comum, regulada também
pelas constituições próprias, aprovadas no capítulo geral de 1625. O capítulo de
1645 se preocupou de tornar acessível todas as reformas as constituições da
Touronense. Portanto foi elaborada uma nova redação (com introdução de algumas
modificações desejadas pelo Papa Inocêncio X: os “artigos inocencianos”),
impressa em 1650. Esta devia ser a base de todas, mas as reformas individuais
podiam acrescentar estatutos particulares (denominados também como “leis
municipais”), como já havia feito a província de Gasconha em 1639. Os 28
“artigos filipinos” (assim conhecidos porque foram dados pelo prior geral João
Antonio Filippini, 1648-54) ditaram normas para a introdução da Touronense nas
outras províncias.
Destas constituições resulta que
a “mais estrita observância” pretendia renovar o espírito contemplativo da Ordem
através da meditação diária, um maior retiro e solidão nas celas, o silêncio e a
mortificação. De outro lado foram revogados os privilégios dos graduados e
restaurada a perfeição da vida comum. Foi revogada também a “filiação” dos
religiosos aos conventos individuais. Com isto os religiosos ficaram mais livres
no âmbito da província.
Os dois corpos de constituições
(para os reformados e para aos outros) permaneceram distintos até 1904, quando
foram refeitas as constituições turonenses para toda a Ordem. Com a promulgação
do CIC em 1917 as constituições foram readequadas ao código e aprovadas em 1930.
A atualização pós-conciliar produziu as constituições de 1971. O novo CIC,
publicado em 1983, provocou uma nova versão aprovada no capítulo geral de
1995.
VII.
SÉCULOS XVII e XVIII
Se é lícito argüir a partir do
elevado número de casas e religiosos, os séculos XVII e XVIII foram de intensas
atividades para os carmelitas. Trabalhou-se especialmente pela expansão da
devoção mariana através de escritos e dedicação às Ordens Terceiras e Confrarias
do Escapulário do Carmo. Cada convento ou mosteiro carmelita tornou-se um centro
de vida mariana. No início do século XVII havia 30 províncias e vicariados, com
693 conventos e mais de 12.000 religiosos. Os mosteiros femininos, sob a
jurisdição da Ordem, eram 33 com mais ou menos 1.500 monjas (estes dados não
incluem os descalços, visto que já tinham se separado no final do século
anterior). A maioria dos conventos se encontrava na Itália, onde as outras
ordens religiosas também eram numerosas. Portanto nem sempre era possível que a
vida se desenvolvesse com garantia de segurança econômica indispensável para
observância regular. Por isto em 1633 o prior geral Teodoro Straccio recebeu a
faculdade de fechar os pequenos conventos e depois a Sagrada Congregação dos
Religiosos, seguindo as decisões da Instaurandae
regularis disciplinae de Inocêncio X,
declarou supressos 217 conventos carmelitas na Itália, mas mais tarde 20 destes
puderam continuar existindo sob a autoridade dos bispos como delegados da Santa
Sé. Além destes, alguns foram fechados ou foram reabertos logo em seguida. Deste
modo, dos 503 conventos que existiam em 1650, o número baixa para 322 em 1685.
No século seguinte há um pequeno crescimento, ou seja, aumenta para 353 em 1765.
Também na França, onde havia 7 províncias e um convento generalício com um total
de 122 casas e 1691 carmelitas, em 1669 o prior geral Mateus Orlando (1666-74),
a pedido de Clemente IX, fechou 19.
A atividade científica e
literária nestes dois séculos registra notáveis nomes.
Nas Ciências Sacras (outros autores serão
indicados quando a propósito da espiritualidade e doutrina mariana): os teólogos
João Antonio Bovio (1566?-1622), bispo de Molfetta; Antonio Marinari Junior
(1605-89); Pedro Tomás Cacciari (+ 1768); o biblista e canonista João da
Sylveira (1592-1687) e João Batista de Lezana (1586-1659).
Na literatura: Gaudenzio Roberti (1655-95), fundador
do «Giornale dei letterati» de Parma; Elias D’Amato (1668-1748), chamado «Tirinarco»
na academia dos Incultos de Montalto da Calábria; Teobaldo Ceva (1697-1746);
Agostinho Arcangelo (1661-1746), tradutor de 127 volumes do francês (com o
pseudônimo de Selvaggio Canturani); Mariano Ruele (1699-?) na Arcádia «Gilasco
Eutelidense»; José Maria Pagnini (1737-1814), na academia «Eritisco Pileneio»,
tradutor das línguas clássicas.
Na bibliografia: os franceses Ludovico
Jacob (1608-70) e Cosme de Villiers (1683-?), cuja «Bibliotheca carmelitana»
editada em 1752 continua sendo um indispensável repertório; os italianos
Pellegrino Antonio Orlandi (1660-1727, autoridade também no campo da pintura) e
João Batista Archetti (1700-65); o português Manuel de Sá (1674-1735); o belga
Norberto de S. Juliana (1710-57).
Nas ciências naturais e matemáticas recordamos os astrônomos
Pacífico Giuntini (1522-90); Paulo Antônio Foscarini (verdadeiro nome Scaridini,
1565ca-1616), ficou célebre por causa da sua «Lettera» publicada em Nápoles em
1615 defendendo as idéias de Galileu sobre a mobilidade da terra; o matemáticos
Elias Del Re (+ 1733) e Elias Astorini (1651-1702) que entendia também de
medicina, de filosofia e foi profundo controversista teológico.
Na música ou sua teoria: Alexandre Tadei
(1585ca-1667); Lourenço Penna (1631-93); Jerônimo Filago Casati (1598-1677);
Mateus Flecha (1530-1604); Manoel Cardoso (1570-1650) e Manoel Correa (+1657).
Cultores da história da Ordem: o já recordado João
Batista de Lezana; Daniel da Virgem Maria (1615-78), autor do «Speculum
carmelitanum»; Ludovico Pérez de Castro (1635-89); João Batista Guarguanti
(1604-82); Carlos Vaghi (1644-1729); Mariano Ventimiglia (1703-90); Eliseu
Monsignani (+ 1737) e José Alberto Ximenez (1719-80), editores — estes dois
últimos — do «Bullarium carmelitanum»; Serafim Potenza (1697-1763); José Pereira
de S. Ana (1696-1759).
A Ordem teve também — de 1600 à
revolução francesa — cerca de 80 bispo e alguns servos de Deus cujos processos
encontram-se na Congregação para as Causas dos Santos: Ângelo Paoli (1642-1720),
o «Pai dos pobres» em Roma; Jerônimo Terzo (1683-1758), fundador do convento de
Noto; João Domingos Lucchesi (1652-1714); Rosa Maria Serio de S. Antonio
(1674-1726); Serafina de Deus (1621-99), que foi coordenadora de um grupo de
mosteiros conhecidos também como «Congregação do SS. Salvador»; a terciária
Ângela Maria Virgili (1662-1734).
Em 1788, às vésperas da
Revolução Francesa, a Ordem tinha 42 províncias e 3 vicariados (17 na Itália, 8
na França, 4 na Espanha, 5 na Europa central, 4 no Brasil, 3 na Alemanha, 2 na
Valônia e Bélgica, 1 em Portugal e 1 na Irlanda), cerca de 780 conventos e
15.000 religiosos. A tempestade das supressões já estava no ar há tempo. Em 1768
o edito da República Vêneta continha pontos sobre a vida religiosa e no ano
seguinte aconteceu o fechamento de conventos religiosos, entre os quais 12
carmelitas. Em 1717, na Baviera foi proibida a criação de novos conventos e no
início de 1800 foram supressos todos. Em 1778 o príncipe eleitor de Mogúncia
(Mainz) tirou do prior geral todos os poderes de jurisdição em seu território.
Foi imitado pelo bispo de Worms e pelo imperador José II na Áustria e Bélgica.
Também tomaram a mesma medida Leopoldo, irmão do imperador, na Toscana, e
Ferdinando IV na Sicília em 1788. O rei da Sardenha Vitório Amadeu II pediu a
união dos conventos em suas posses no continente (Piemonte). Esta situação, que
não tinha nada a ver com problemas financeiros urgentes, determinou o pedido por
parte da Ordem para que fossem supressas e unidas ao seu tronco as reformas de
Piemonte, Monte Santo e Congregação Mantuana. Isto foi concedido pelo Papa Pio
VI com a bula Exigit em 21 de março
de 1783 (uma declaração sucessiva, datada 30 de setembro de 1785, esclarecia que
a bula incluía também as províncias sicilianas de Monte Santo e da Escada do
Paraíso).
Na França as 8 províncias com
seus 130 conventos foram supressos em 1790 e os religiosos foram dispersos
(vários sofrearam deportação ou foram mortos: o mais conhecido destes é o Pe.
Martinho Pannittier, decapitado em Bordeaux em 21 de julho de 1794. Em 1925 foi
iniciada a sua causa de beatificação). O convento de Paris foi usado como
cárcere e lugar de execução de 113 sacerdotes de várias proveniências na
“matança setembrina” de 1792.
Na Bélgica a supressão aconteceu
em 1796, e em 1812 na Holanda, onde permaneceu reconhecido só o convento de
Boxmeer, que, porém, até 1841 não podia receber noviços. A secularização na
Alemanha aconteceu entre 1801 e 1803. Também ali só se permitiu a existência de
um só convento, aquele de Straubing, mas com a proibição de receber
noviços.
A idéias francesas,
transportadas pelos soldados do exército de Napoleão, tiveram a sua influência
também na Itália até se chegar à supressão em 1810. O prior geral Timóteo Maria
Ascensi já tinha sido deportado para a França um ano
antes.
Na Espanha, em 1772, o prior
geral José Alberto Ximenez havia supresso 6 conventinhos para dar maior respiro
aos outros. A pedido do rei Carlos IV, o Papa Pio VII, em 15 de maio de 1804,
concedeu aos carmelitas espanhóis – mais numerosos do que em outros lugares, se
dizia, e necessitados de renovada disciplina – um superior geral próprio com
paridade de direitos como o outro para o resto da Ordem. Para se salvar a
unidade se diria alternativamente a um prior geral e ao outro vigário. A
supressão na península Ibérica aconteceu em 1832 em Portugal e em 1835 na
Espanha, onde foram fechados 78 conventos.
Na Europa centro-oriental a
província da Boemia foi danificada no tempo de José II; os 34 conventos da
Volínia, Lituânia e Rússia Branca foram em grande parte supressos após a
insurreição de 1832 e em 1863, permanecendo só 7 conventos da Galícia austríaca
(estes também foram supressos mais tarde).
No Brasil, o imperador dom Pedro
II, em 1855, proibiu a aceitação de noviços. Em 1890, das antigas e florescentes
províncias só restavam 8 sacerdotes.
Conhecidíssimas são as
supressões na Itália nos anos 1855-73. Dos 124 conventos carmelitas e cerca de
1.050 religiosos do ano 1850, em 1908 – portanto quando a restauração já tinha
sido iniciada – havia 32 conventos com 212 religiosos; dos 82 conventos da
Sicília só permaneceram 6, com os quais, em 1903, se pensou em erigir um
comissariado.
IX.
RESTAURAÇÃO E ESTATÍSTICA ATUAL.
Apesar das leis de supressão foi
possível salvar aqui e ali algum convento, que foi a semente de restauração. Na
Holanda se instituiu em 1879 uma província que abrangia também o convento alemão
de Straubing. Em 1896 foi criado o Vicariado da Baviera. Na Espanha se recriou
uma província em 1889, que em 1906 foi dividida em duas. Carmelitas bávaros, em
1864, lançaram nos Estados Unidos da América para uma província reconhecida como
tal em 1889. Em 1896 na ilha de Malta foi erigida uma província. Na França não
se conseguiu entrar: uma tentativa feita em Montpellier em 1878 foi anulada dois
anos mais tarde por leis contrárias.
Muito ativa foi a província da
Irlanda. Em 1881 alguns carmelitas irlandeses foram para a Austrália, outros, em
1889, partiram para Nova Yorque. Em 1926 re-introduziram a Ordem na Inglaterra
(hoje Província Britânica), e em 1946 abriram missões na Rodésia
(Zimbabwe)
Muito notável também foi a obra
da província da Holanda. Em 1904 assumiu a restauração do Carmelo Brasileiro na
Província do Rio de Janeiro; em 1923 abriu missões em Java (hoje província de
Indonésia). Em 1924 retomou as fundações na região da Renânia alemã (erigida
província em 1969) e em 1958 implantou a Ordem nas Filipinas (hoje Comissariado
Geral).
Mais lenta foi a restauração na
Itália, se considerarmos o seu antigo esplendor. Em 1909 a S. Congregação dos
Religiosos consignou os conventos remanescentes das províncias da Sardenha e da
Romanha para as províncias Romana e Toscana. Em 1987 deu-se início a um caminha
em direção a criação de uma federação entre as províncias Romana, Toscana,
Siciliana e o Comissariado de Vittorio Veneto, que em 1989 chegou a uma
unificação formando uma nova entidade de uma única província chamada
Italiana.
Na Espanha a restauração,
iniciada em 1875, se propagou de Palma de Maiorca às várias regiões, sendo em
1889 erigida a província de Espanha, da qual posteriormente deu origem às atuais
4 províncias: Arago-Valentina, Bética, Catalunha e Castilha. Em 1894 deram
início à restauração do Carmelo Brasileiro. Um duro golpe foi a guerra civil que
ensangüentou a Espanha entre os anos 1936-39, ceifando a vida de 57 carmelitas.
Porém, nos anos sucessivos se recompôs e se abriram missões na América Latina.
Em 1930 começou a restauração em Portugal. A Ordem se refez também na Polônia,
que contou com a ajuda espanhola.
Após a Segunda Guerra Mundial,
que causou graves danos e destruição nos países da Europa, nos anos da
reconstrução se nota na Ordem um novo impulso não só de ministério e de ciência,
mas também a abertura de atividades missionárias propriamente ditas,
especialmente na África, Ásia e América Latina. Em 1990 houve o retorno à
França.
Em primeiro plano, oportunamente
atualizadas segundo as diretrizes do Concílio Vaticano II, estão as atividades
paroquiais e no campo da justiça e paz, unidas às formas tradicionais com o
ensinamento, a pregação, os retiros espirituais, o culto mariano, a assistência
espiritual às associações ligadas ao Carmelo, e outras formas em resposta às
exigências das várias Igrejas locais e das terras de
missões.
A Ordem tinha, em 31 de dezembro
de 2005, 19 províncias, 3 comissariados gerais e 3 delegações gerais, distintas
por sua vez em diversos grupos operativos chamados “Regio”. Os 1960 religiosos
carmelitas estão presentes em 38 países dos cinco continentes. Os conventos e
casas são 392.
O ramo feminino é representado
por 872 monjas de clausura em 75 mosteiros e por 3.286 irmãs de 15 institutos de
vida ativa com 417 comunidades.
Sobre os terciários e leigos que
vivem sob a sombra do Carmelo se pode calcular um número aproximado de 3
milhões.
Como destaques individuais
pode-se citar: o holandês frei Tito Brandsma, o “jornalista mártir” morto no
campo de concentração de Dachau em 1942, e beatificado por João Paulo II em
1985; o polonês frei Hilário Januszewki (1907-1945), beatificado em 1999; o
alemão frei João Brenninger (1890-1946), autor do célebre “Diretório espiritual”
e morto em conceito de santidade; o catalão frei Bartolomeu Xiberta (1897-1967),
eminente teólogo e experto no Concílio Vaticano
II.
A Ordem mantém missões na
Indonésia e na África e desenvolve atividades apostólicas em vários países da
América Latina e nas Filipinas.
São 11 os bispos carmelitas na
atualidade.
Promotor de estudos específicos
da Ordem é o Institutum Carmelitanum
(fundado em 30 de outubro de1951) em Roma, está sob a imediata jurisdição do
prior geral. Seu órgão divulgativo é Carmelus (desde 1954). O órgão oficial
da Ordem é a revista Analecta Ordinis
Carmelitarum (fundada em 1909).
Casa generalícia e procura
geral: via Giovanni Lanza, 138 - 00184 Roma.
Fonti e collezioni generali: G.B. de Cathaneis,
Speculum Ordinis Fratrum Carmelitarum, Venezia 1507; I.B. de Lezana, Annales sacri et elioni Ordinis b.mae V.
Marine de Monte Carmeli, IV, Roma
1656; Daniel a Virgine Maria, Vinea
Carmeli seu historia eliani Ordinis,
Anversa 1672; Id., Speculum
carmelitanum, 2 vol. in 4 t., ivi 1680; Bullarium carmelitanum, ed. E. Monsignani-I.A. Ximenez, 4 vol.,
Roma 1715-68; C. Vaghi, Commentaria
fratrum et sororum Ordinis b.mae Mariae V. de Monte Carmelo Congregationis
Mantuanae, Parma 1725; C. de
Villiers, Bibliotheca carmelitana, 2
vol., Orléans 1752 (ried. anastatica, Roma 1927); M. Ventimiglia, Historia chronologica priorum generalium
latinorum Ordinis B.V. Mariae de M. Carmelo, Napoli 1773 (ried. Anastatica,
Roma 1929); Id., Il sacro Carmelo
italiano, ivi 1779; B.
Zimmerman, Monumenta historica
carmelitana, Lirinae 1907; Acta capitulorum generalium Ordinis Fratrum
B.V. Mariae de M. Carmelo, ed. G. Wessels, 2 vol., Roma 1912-34; B.
Xiberta, De scriptoribus scholasticis
saec. XIV ex Ordine Carmelitarum,
Lovanio 1931 (Bibliothèque de la Revue d’histoire
ecclésiaslique 6); Norbertus a S. Iuliana, Batavia desolata carmelitana, sive notitia
conventuum Fratrum Ordinis B. Mariae V. de M. Carmelo in foederato Belgio olim
sitorum, in AnalOC 8
(1932-6)371-584; Antoine-Marie de la Présentation, Le Carmel en France, 7 vol., Toulouse
1936-9; Ambrosius a S. Theresia,
Monasticon carmelitanum, seu lexicon geographicum-historicum omnium fundationum
universi Ordinis Carmelitarum, in
AnalOCD 22 e 23 (1950 e 1951), a puntate; L. Saggi, La Congragazione Mantovana dei
Carmelitani sino alla morte
del b. Battista Spagnoli (1516), Roma 1964 (Textus et studia historica carmelitana 1); A.
Staring, Der Karmelitengeneral Nikolaus
Andet und die katholische Reform des XVI. Jahrhunderts, Roma 1959 (Textus et studia historica carmelitana
3); P.W. Janssen, Les origenes de la
réforme des C. en France au XVIIe siècle, L’Aja 1963. 19692. (Archives internacionales d’histoire des
idées 4); O. Steggink, La reforma del
Carmelo Español, la visita canónica del general Rubeo y su encuentro con Santa
Teresa (1566-67), Roma 1965 (Textus et studia historica carmelitana
7); L. van Wijmen, La Congrégation
d’Albi (1499-1602), Roma 1971 (Textus et studia historica carmelitana
11); C. Cicconetti, La regola del
Carmelo; origine, natura, significato, Roma 1973 (Textus et studia historica carmelitana
12). Vari studi o indicazioni di
essi nelle riviste AnalOC; Carmelus (nel cui II fasc. di ogni anno,
abbondante bibl.); EphC (dei
Carmelitani scalzi, ma spesso vi sono studi riguardanti ambedue i rami
dell’Ordine); Archivum bibliographicum
carmelitanum. Roma 1956- (anche
questo degli Scalzi, ma con indicazioni valide per tutto l’Ordine); Carmel (Olanda) 1948-68, poi sostituito
da Speling; The Sword, Downers Grove,
III. USA, 1937-. — StatOrdCongr,
p. 8-9, nº 30; AnnPont 1974, p.
1154. Saggi, s. v. Carmelitani Storia, in DIP, II, 460-476.
Oltre alla bibliografia ivi indicata cf.: J. Smet, O.Carm., The Carmelites, A History of the Brothers of
Our lady of Mout Carmel, 4 voll. in 5 tomi, Darien Ill., Carmelite Spiritual
Center, 1975-1985 (tradotto in varie lingue: spagnolo, olandese, polacco,
tedesco; l’edizione italiana, curata dal centro Stampa della provincia d’Italia
e dall’Institutum Carmelitanum di Roma, presenta aggiornamenti bibliografici e
appendici proprie); E. Boaga, O.Carm., Come pietre vive ... per leggere la storia e
la vita del Carmelo, Roma, Institutum Carmelitanum, 1993 (esiste anche
edizione in portoghese, spagnolo e in preparazione inglese e
francese).