segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Minha iluminura favorita.


     Antes de voltarmos a bela serie de imagens do profeta Elias comentadas pelo prof. Luis da Silva Pereira, não poderia deixar de compartilhar esta não menos bela iluminura. Talvez por ser um carmelita estudante nos tempos modernos, quando vi esta representação na capa do livro "Carmel in Britain: Essays on the Medieval Carmelite Province, Vol. 2" embora sem cores, foi algo que me chamou a atenção. Hoje quando lia um artigo do medievalista Keith J. Egan na mesma coleção, procurando registros de fontes sobre as primeiras fundações carmelitas na Europa, me deparei com a citação da obra do frade dominicano Vincent of Beauvais (1190-1264) o qual se refere as primeiras fundações, então na procura pela obra, encontrei a bela iluminura que por tanto tempo procurei.
    Esta é a Iluminura abre o "Speculum Historiale" de Vincent of Beauvais, em um manuscrito que pertenceu ao Rei Eduardo IV e data de 1478-80, se encontra hoje conservado na Biblioteca Britânica em Londres. 
     A Iluminura nos mostra um carmelita (notado por sua capa branca, "whitefriars") sentado em seu escritório a escrever, em segundo plano vemos um biblioteca com coloridos livros que em parte se encontram atras de uma cortina verde, a iluminura e cercada por motivos florais e na parte direita bem como na inferior encontramos as armas do rei Eduardo IV ( que são esquartejadas entre armas francesas fundo azul com três flores-de-lis em amarelo, e inglesas com fundo vermelho com três leões em amarelo). As da direita estão em estandartes e são seguradas por um par de anjos (nota-se pelas azas) e as armas da parte inferior do manuscrito encontram-se em sua representação heráldica tradicional, exceto a que se encontra no centro que leva acima do elmo uma coroa e uma coruja e não um leão. 

domingo, 16 de dezembro de 2012

Iconografia do Profeta Elias


Autor: Luiz da Silva Pereira - Professor de Iconografia no Curso de Estudos Artísticos e Culturais da Faculdade de Filosofia / UCP / Braga.

Dieric Bouts ou Dirck Bouts, o mais velho, é um importante pintor flamengo do século XV. Terá nascido em Haarlem, entre 1415 e 1420 e aí faleceu em 1475, mas trabalhou principalmente em Lovaina, a partir de 1468. Sofreu nítida influência de Roger van der Weyden, um dos maiores pintores de todos os tempos, em nossa opinião.
O quadro que vemos representa o profeta Elias no deserto. De acordo com o relato bíblico (I Reis 19,1-8), depois de ameaçado pela mulher de Acab, Jezabel, que queria matá-lo por ter passado a fio de espada os profetas de Baal, Elias fugiu para o deserto. Tendo adormecido, apareceu-lhe um
anjo que lhe ordenou que se levantasse e comesse. Ao acordar, viu perto de si
um pão cozido na cinza e uma vasilha com água. Reconfortado com o alimento, caminhou quarenta dias e quarenta noites até chegar ao monte Horeb, o monte de Deus.
São esses dois momentos da narrativa bíblica que o quadro de Dieric Bouts representa, colocando o sono de Elias e a chamada do anjo, em primeiro plano, e a partida para a grande caminhada, em segundo.
Se bem repararmos, o quadro revela um bom domínio da perspectiva linear e tonal. As figuras em primeiro plano são maiores, significando que é o tema central do quadro; a figura do profeta já de viagem é mais pequena porque está mais distante, percorrendo um caminho que se estreita à medida que se afasta. A perspectiva tonal é dada pelo colorido da paisagem. O espaço mais distante apresenta-se monocromático, de cores mais esbatidas e indefinidas. Digamos, a propósito, que uma das mais permanentes características da pintura flamenga é a presença de paisagens, em fundo, por detrás da cena representada.
O pão, colocado em cima da vasilha com água, encontra-se ao pé da cabeça do profeta. Será um símbolo do alimento eucarístico, aquele de que o homem necessita para a longa caminhada da vida até ao monte de Deus. O cajado encontra-se no chão, na primeira cena, uma vez que a personagem dorme. Que o profeta caminha é-nos sugerido pelo cajado na mão direita, mas também por um dos pés estar mais atrasado que o outro e o manto esvoaçar ligeiramente. Repare-se no pormenor de o profeta dormir apenas reclinado, a cabeça apoiada na mão direita. Tal gesto
pode sugerir que, mesmo dormindo, está pronto para partir, respondendo ao chamamento de Deus. As barbas, característica habitual na iconografia dos profetas, significam maturidade, autoridade, e que é um homem de Deus.
A cor vermelha do manto poderá aludir à relação de Elias com o elemento ígneo. Recorde-se que o texto bíblico o apresenta como um homem que “arde em zelo pelo Senhor” (I Reis 19, 14), pede a Javé um fogo que consuma o holocausto por ele preparado, provando assim que Baal é um falso deus (Ib. 18, 19-38) e é arrebatado aos céus num carro em chamas puxado por cavalos de fogo (II Reis 2, 11). Por isso, um dos seus atributos iconográficos é uma espada flamejante, para além da roda do carro em que foi transportado e do corvo que lhe traz alimento. Convém também lembrar que o profeta Elias, ao ser arrebatado para o céu, deixa cair o manto, legando-o como herança, por certo simbólica, ao profeta Eliseu, que assiste à cena e lhe sucede como profeta de Israel.
O anjo que, de pé, para ele se inclina e delicadamente lhe coloca a mão no ombro, a fim de o despertar, é pintado de branco, cor tradicional dos anjos, e ostenta magníficas asas policromas. Frequentemente, os pintores assim as representavam. Recordem-se os anjos de Fra Angélico, por exemplo. Em nossa interpretação, a policromia das asas significa a luminosidade dos anjos e, portanto, a sua natureza espiritual. Os medievais sabiam perfeitamente que as cores resultam da decomposição da luz e com a luz significavam a espiritualidade, o conhecimento e a beleza. São Boaventura, por exemplo, escreve: “Propriissime Deus lux est” (Deus é, com toda a propriedade, luz). E acrescenta que aqueles que d’Ele mais
se aproximam mais luz têm.
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Daniele Ricciarelli é também conhecido por Daniele da Volterra, nome da localidade onde nasceu, em 1509. Faleceu em Roma, a 4 de Abril de 1566. Foi pintor e escultor maneirista de qualidade. Ficou famoso não só pelas suas obras, algumas claramente influenciadas por Miguel Ângelo, de quem foi discípulo e com quem trabalhou, mas também porque foi o encarregado de “vestir” as figuras nuas da
capela Sistina, consideradas escandalosas. Por isso lhe puseram a alcunha depreciativa de “braghettone”, quer dizer, “o cuecas”.
O presente quadro, elaborado na década de 1550 a 1560, é uma excelente pintura. Representa o profeta Elias no deserto, logo depois de o anjo o ter acordado e lhe ordenar que se alimentasse porque o esperava uma grande caminhada. Que a personagem veio de viagem e vai continuá-la é-nos indicado não pela presença de um bordão, como noutras iconografias, mas pelo saco que lhe serviu de travesseiro. O pintor capta o preciso momento em que o profeta acorda e pega no pão. A caneca de água e o pão encontram-se em primeiro plano, significando a importância do simbolismo eucarístico do alimento e da bebida que lhe permitirão renovar as forças. O anjo não é representado, uma vez que apenas foi visto pelo profeta, em sonhos.
Repare-se na grande mancha vermelha do manto, em contraste com os tons ocres do deserto. Chamámos já a atenção para a importância da cor vermelha que simbolizará o fogo, tão importante na acção do profeta. Foi o fogo descido do céu que consumiu as ofertas, no confronto com os sacerdotes de Baal; foi um carro de fogo que o arrebatou pelo espaço, e foi o manto que deixou cair, ao ser arrebatado, como uma espécie de herança espiritual a Eliseu, seu sucessor como profeta de Israel.
No entanto, a grande força expressiva do quadro encontra-se em outros pormenores. Em primeiro lugar, notemos a posição do corpo. Dá-nos a viva sensação de um homem exausto, que acaba de acordar de um sono profundo e ainda se encontra estremunhado, não conseguindo abrir completamente os olhos nem sentar-se. Por isso se apoia no braço direito. Repare-se, depois, no tratamento dado à musculatura dos braços, dos ombros e dos peitorais que se adivinham sob a túnica. Impressiona igualmente o volume do pé direito, destapado, e da perna encoberta pelo manto. Elias tem as marcas físicas de um caminhante incansável.
Julgamos ver no tratamento da anatomia uma clara influência da maneira vigorosa como Miguel Ângelo pintava os corpos. Pintava como se esculpisse. E não esqueçamos que Daniele Ricciarelli foi também um notável escultor.
Em síntese, o quadro comunica-nos a impressão de um atleta de Deus, quase de um gigante, momentaneamente fragilizado pelas canseiras da vida, mas prestes a recuperar as forças com o alimento enviado pelo céu.
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A iconografia do profeta Elias é variada. Não se limita ao episódio em que um anjo o alimenta no deserto, como já vimos. Inclui também o holocausto das vítimas preparadas pelo profeta em disputa com os sacerdotes de
Baal (I Reis, 18); o episódio em que é alimentado pelos corvos (I Reis 17, 2-7),
bem como o arrebatamento ao céu num carro de fogo (II Reis, 2, 1-14). Estas duas
últimas iconografias são muito frequentes na arte bizantina ou por ela influenciada.
Mas há ainda uma outra menos habitual: o episódio da viúva de Sarepta, que acolhe o profeta e o alimenta com a última farinha e azeite que tinha em casa. Depois, o filho da viúva morre, mas o profeta ressuscita-o (I Reis, 17, 8-24).
O quadro que apresentamos é de Bernardo Strozzi, pintor barroco que nasceu em Génova, em 1581 e faleceu em Veneza, em 1644. A princípio influenciado por Caravaggio, deixou-se seduzir, depois de passar a viver em Veneza (1631), pelo estilo de Rubens e Veronese. O quadro que vemos, datado de 1630, revela ainda, em nossa opinião, influência de Caravaggio pela disposição concentrada das personagens e a maneira como a luz – neste caso vinda da esquerda para a direita – as recorta de um fundo totalmente escuro. Por isso se costuma dizer que Caravaggio é o iniciador do tenebrismo, caracterizado pela exarcebação do contraste claro-escuro, da luz e das sombras, valorizando os grandes planos, dando forte relevo ao desenho dos músculos, às expressões faciais, à gesticulação das personagens.
Elias aparece de barba branca e acentuada calva, elementos iconográficos habituais, para significar a sua idade, embora o braço esquerdo revele grande vigor. Repare-se que empunha ainda o cajado de viajante. Elias interpela
a viúva mal acaba de chegar da viagem de Carit para Sarepta. O gesto da mão direita é de quem pede de comer ou responde às objeções da viúva. O rosto é visto apenas de perfil.
O pintor prefere acentuar a suave beleza da viúva e, acima de tudo, a sua objeção desconfiada ao pedido do profeta, revelada nos lábios entreabertos e na perplexidade do olhar. Ao mesmo tempo, a inclinação da cabeça, que traça uma oblíqua paralela ao braço esquerdo de Elias, revela que escuta a promessa de que não lhe faltará comida. O pintor não esquece o pormenor da ânfora do azeite e da panela onde se encontra a farinha. Não os podia esquecer
porque constituem os elementos centrais do milagre e do seu simbolismo. Curiosamente, a viúva põe-lhes as mãos em cima como que defendendo os últimos alimentos que lhe restam, consumidos os quais morreria à fome.
Finalmente, a criança. Oferece uma escudela de água. O profeta pedira de beber, mas o relato bíblico não diz que é ela quem a vai buscar e a oferece. No entanto, é uma interpretação muito verosímil do pintor.
Mas o mais interessante é o facto de a criança estar colocada precisamente no centro geométrico do quadro. O seu papel será, pois, importante, senão mesmo fundamental. Com efeito, ela vai ser objeto de um milagre ainda mais
extraordinário do que a multiplicação da farinha e do azeite. Vai morrer e ser ressuscitada pelo profeta. Os milagres da ressurreição revelam não só o poder de Deus sobre a morte, mas a promessa de uma vida eterna.
Não podemos deixar de relacionar o episódio quer com a multiplicação dos pães e dos peixes, prefiguração da eucaristia, quer com a morte e ressurreição de Jesus Cristo, o filho de Deus. Tal relação permite-nos intuir o significado profundo de todo este episódio. A criança que eleva a escudela para oferecer a água, sem a qual não é possível a vida humana, é símbolo de Cristo que morre, ressuscita e oferece a comida e bebida da vida eterna, que é Ele próprio.
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sábado, 15 de dezembro de 2012

História do Carmelo no Brasil:


Titulo: A INFLUÊNCIA DA ORDEM CARMELITA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DA SOCIEDADE PERNAMBUCANA 

Autora: Profa. Dra. Maria das Graças Aires Araújo 

Resumo:
A presente pesquisa tem como objetivo analisar o processo de fixação e expansão da Ordem Carmelita, em Pernambuco, entre os anos de 1654 e 1727, a partir da organização e econômica empreendida pelos religiosos  na sociedade colonial pernambucana. Através do desenvolvimento deste trabalho, pode-se vislumbrar a participação empreendida pelos religiosos, no processo de ocupação e conquista do território pernambucano, durante a colonização portuguesa.

PDF:

http://www.cerescaico.ufrn.br/mneme/anais/st_trab_pdf/pdf_6/graca_st6.pdf

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Autor: HONOR, André Cabral

Resumo:

Após as sublevações em Pernambuco, posteriormente intituladas “Guerra dos Mascates”, é possível perceber nos documentos avulsos manuscritos existentes  no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa os ecos desse conflito na Capitania da Paraíba, que se apossa do discurso de fidelidade  ao rei para tentar se sobressair a Pernambuco. Neste contexto, os carmelitas reformados da Paraíba, por meio do seu então Capitão-mor João da Maia da Gama, vituperam os carmelitas observantes de Olinda, pedindo a entrega do convento destes à Reforma Turônica, expressando uma faceta do conflito eclesiástico que se iniciou na segunda metade do século XVII com a vinda dos carmelitas reformados para as capitanias do norte. Por meio de uma análise documental é possível lançar novos olhares sobre esses conflitos eclesiásticos dentro do Brasil  colônia e o contexto sócio-econômico que os rodeiam. A presente pesquisa faz parte da dissertação  de mestrado “O verbo mais que perfeito: uma análise alegórica da cultura histórica carmelita na Paraíba colonial” vinculado ao Mestrado em História da Universidade Federal da Paraíba.

PDF:

http://anpuh.org/anais/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.0188.pdf