Filosofia uma das artes liberais, pintada na
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GUY TERRENA O.Carm ( + 1342)
Nascido em Perpignan, chamado de doctor breviloqutus, ingressou na Ordem dos Carmelitas, da qual foi nomeado Geral 1318. Também foi mestre de teologia bispo de Mallorca e, a partir de 1332, de Elna. Discípulo de Godofredo de Fontaines , Guy Terrena baseou-se nas doutrinas de seu mestre, mas modificou-as em numerosos pontos. sua mais importante contribuição consiste na posição adotada na disputa dos universais. segundo Guy, a natureza, comum não tem realidade, ao menos realidade própria, de modo que a significação do nome de tal natureza, ao ser aplicado a um indivíduo, depende desse individuo. Cada individuo possui uma natureza própria ou melhor, sua conceitualização própria. Isso, porém, não significa que o nome comum seja inteiramente convencional. Adotando uma posição que prenunciava curiosamente algumas das mais recentemente adotadas na questão dos universais, Guy indica que ha entre as cosias relações reais - portanto, que as semelhanças que encontramos funda-se nos indivíduos e são dadas por meio das sensações. Essa posição foi considerada seminominalista e, em todo caso, próxima da algumas das manifestações do ockhamismo.
Guy Terrena escreveu vários comentários a Aristoteles (a Física, a Metafisica, ao De anima e a Politica) e às Sentenças, assim como algumas Questiones Disputatae e ordinariae. B.M Xiberta Roqueta editou a Quaestio de magisterio infalibili Romani Pontificis em Opusc. et textus historiae Ecc. eiusque vitam atque doctrinam illustratia, seriesschol. et myst. fasc. II, 1926, e apresentou o índice de varias Quaestiones disputatae e ordinariae em An. Ord. Carm. V (1924)
(MORA, J. Ferrater, DICIONÁRIO DE FILOSOFIA, Ed. Loyola, 1994, São Paulo, SP)
"... o carmelita catalão Guido Terrena (Guido Terreni, falecido em 1342), autor de Comentários sobre Aristóteles ( Física, De anima, Metafisica, Ética, Politica), de um Comentário sobre as Sentenças e de Questões disputadas. apoiando-se num texto de João Damasceno ( De fide orthodoxa, I, 8), guido Terrena recusa toda realidade à natureza comum: Platão e Sócrates não possuem apenas cada um suas diferenças individuais próprias, mas também sua humanidade própria. Nesse ponto, ele concorda, pois com a tese de Henrique de Harclay, para quem Socrates et Plato distinguuntur per humanitatem in re sicut per socrateitatem et platonitatem. Guido não hesita sequer e sustentar essa tese para os gêneros. Animal é uma coisa enquanto atribuído ao asno, e outra coisa enquanto atribuído ao homem, pela simples razão de que, num caso, a coisa que se predica é um asno, ao passo que, no outro caso, é um homem. em tal doutrina, como aliás na de Ockham, as diversas proposições: Sócrates é homem, Sócrates é animal, Sócrates e substância, significam simplesmente que Sócrates é Sócrates.
Vemos com isso - e é aqui que Guido se distingue de Ockham -, o que corresponde aos universais no real: certa semelhança entre substancia que, enquanto reais, são contudo individualmente distintas umas das outras.
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Joaõ Beconthorp (+ 1348)
João Baconthorp,
nascido no Condado de Norfolk (Inglaterra), estudou em Paris (com Guy Terrena
O.Carm). Membro da Ordem Carmelita, foi provincial da Ordem na Inglaterra de
1327 a aproximadamente 1333. João Baconthorp lecionou em Cambridge e em Oxford,
sendo chamado de doctor resolutos.
Durante algum
tempo, designou-se João Baconthorp como Princeps Averroistarum, sendo
considerado um dos eminentes representantes do chamado “segundo averroísmo”.
Essa opinião é infundada, ou melhor dizendo, funda-se tão-somente no fato de
que João Beconthorp citou e interpretou abundantemente textos de Averroís. A rigor,
João Beconthorp apôs-se a Averroís e aos averroístas latinos no que diz
respeitos as doutrinas fundamentais, e em especial à tese do intelecto ativo.
Filosoficamente, caracterizou-se pela adoção de certas posições intermediarias.
Assim, por exemplo, na questão da distinção entre a essência e a existência,
ele procurou uma posição intermediaria entre Santo Tomás e os nominalistas,
afirmando que a diferença entre essência e existência é não das coisas, mas
real, isto é, “segundo diversos graus de ser”,
secundum diversos grados essensi. Na questão dos universais, adotou um
posição que pode ser considerada uma modificação da preconizada por Henrique de
Gand: os universais se fundam na capacidade ou disposição do individuo de ser
apreendido mediante vários conceitos. Em teologia, João Beconthorp postulou que
no conhecimento que Deus possui de si mesmo conhece tudo que não é Ele mesmo.
João
Baconthorp foi tido como o principal mestre escolástico da Ordem Carmelita;
alguns membros desta Ordem desenvolveram a filosofia ad mentem Baconis ou segundo os ensinamentos de João Beconthorp.
Obras: João
Baconthorp escreveu Comentários às Sentenças, escreveu também várias Quaestiones quodlibetales, e alguns comentários
a Aristóteles.
(MORA, J. Ferrater, DICIONÁRIO DE FILOSOFIA, Ed. Loyola, 1994, São Paulo, SP)
Iluminura do século XIV que mostra João Beconthorp ensinando.
Pintura na Bibliothek des Karmelitenkloster in Straubing - Alemanha |
João Beconthorp é citado na celebre obra de
Étienne Gilson “A Filosofia na Idade Média”, para responder a uma pergunta que
já encontrou diversas respostas na história da Filosofia. Seria João Beconthorp
um filosofo averroísta? Transcrevemos abaixo a resposta de
Gilson.
“Devemos eliminar da lista dos averroístas latinos
o carmelita John Beconthorp (Johannes Baco, falecido em 1345-48), que nela
esteve secularmente inscrito com o título de Princeps averroistarum. Essa lenda foi
destruída recentemente (B. Xiberta) e ora só se vê como teólogo de opiniões
moderadas, quase tímido, que não hesita em relatar as opiniões de Averroís, mas
sem admitir nenhuma, antes para refuta-las. Não só ele qualifica Averroís de pessimus haereticus Commentador, como se
opõe vivamente aos averroístas latinos no que concerne à unidade do intelecto
agente, que lhe parece um erro contra a fé e até contra a filosofia. Outro
inglês do século XIV, Tomás de Wilton, parece ter maiores direitos ao título de
averroísta. Pelo menos John Beconthorp, em seu Comentário sobre as Sentenças,
criticou-o por cair na doutrina de Averroís sobre o intelecto
possível.”
(GILSON, Étienne, A Filosofia na Idade Média,
Martins Fontes, São Paulo, 2007, p. 855-856)
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