No
fim do século XII um grupo de eremitas se reúne junto a Fonte de Elias no Monte
Carmelo; entre 1206 e 1214 pedem uma regra de vida a Santo Alberto de
Jerusalém. Porém embora profundamente influenciados pela figura do Profeta
Elias e pela Regra de Santo Alberto, estes eremitas não ficaram conhecidos como
elianos ou albertinos, mais sim como Irmãos de Maria, isso porque Maria era
presença constate na vida do homem medieval, seja dos peregrinos que saiam de
suas pátrias em busca do encontro com Deus na solidão e tomavam por companhia a
Virgem, seja dos cruzados que com armas partiam para a defesa da Terra Santa ao
ressoar da Salve Regina oração que é
composta como o hino dos cruzados.
Nossos primeiros pais no Carmelo são
estes homens, peregrinos e cruzados, que guardavam profundo amor por Maria, e
ela dedicam uma capela no Monte Carmelo, assim Maria se faz Irmã entre os
irmãos do Carmelo, e Senhora daquele Lugar.
Entre tanto os êxitos cristãos nas
cruzadas eram cada vez menores, os ataques muçulmanos logo tornaram o Carmelo
um lugar inseguro, e em 1238 se iniciaram as migrações para Europa. Embora
tenham os carmelitas saídos do Carmelo geográfico, não deixaram a
espiritualidade do Carmelo, onde em seu centro estava Maria.
Nos primeiros séculos da Ordem, esta
ganha cada vez mais um caráter Mariano, em 1251, temos datada em nossa tradição
a visão Mariana a São Simãos Stock a partir da qual o Escapulário do Carmo, se
torna sinal de proteção mariana, em 1287 os carmelitas trocam suas capas
listadas pela capa branca, representando a pureza de Maria.
Nas universidades inglesas e
francesas do século XIV, carmelitas como John Beconthorp e Gui Terrena,
argumentavam como o Carmelo poderia ter a essência de Maria, visto que o nome
na concepção medieval representa a essência e nossa Ordem tem o nome de Maria,
logo os carmelitas tem a essência de Maria. Ou estavam presentes nos embates
teológicos na defesa da perene Virgindade de Maria, e sua Imaculada Conceição.
Ou seja, Maria se torna parte da
vida, do ser carmelita, e isso é bem expresso na liturgia, nas constituições
1312 se pede para que se reze uma antífona Mariana ao fim de cada uma das horas
canônicas, pede-se ainda especial solenidade na Missa de Sábado, onde se deve
fazer a memoria da Virgem.
A Liturgia Carmelitana ainda
prescrevia especial solenidade nas festas marianas (Purificação, Anunciação,
Assunção, Natividade e ainda como festa própria a Imaculada Conceição). A festa
patronal, a mais importante dentre os festejos da ordem mudou no decorrer dos
séculos; até 1300 foi Anunciação, em 1306 encontramos a festa da Conceição e
até a segunda metade do século XIV Assunção de Maria; já no século XIV, principalmente na “Inglaterra” se festejava,
Maria Senhora do Carmo, no dia 17 de Julho, esta festa foi incorporada por toda
a Ordem e transferida no século XV para o dia 16 de Julho. Em 1606 o Capitulo
Geral reconhece e unifica a liturgia com titulo “Solene Comemoração
Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo”.
O Carmelo descalço embora tenha
deixado o rito litúrgico carmelitano, na festa de Nossa Senhora do Carmo,
celebravam com a liturgia própria da Antiga Observância, E em 1609 aparece na
liturgia da Congregação Descalça Italiana a festa do Carmo grau de solenidade
com oitava. A oitava seria acrescentada também no Carmelo observante em 1628.
A celebração da oitava nas grandes
festas é de inspiração bíblica, encontramos
no antigo testamento prescrito para a festa dos Tabernáculos e na festa da
Dedicação do Templo, porém este costume foi transferido ao cristianismo só no
século IV, onde se reservava um período de alegre retiro nas festas da Pascoa,
Pentecostes, e no VIII século acrescentou-se a oitava de natal. Já na Idade
Média as oitava passaram a ser celebradas nas principais festas das Igrejas
particulares e das Ordens religiosas.
Sendo
a oitava da Solenidade de Nossa Senhora do Carmo, oito dias de alegres liturgias
segundo a festa celebrada, partindo do dia 16 de Julho conta-se oito dias ai teremos
o dia 23 que é dedicado a memoria de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça, Assim
passaram os Carmelitas a terminar a oitava da festa do Carmo com esta
comemoração, que vem das antigas ladainhas marianas que invocavam a Mãe da
Divina Graça.
Com
a reforma litúrgica do Concilio Vaticano II, as oitavas foram dedicadas apenas
as festas do Natal e da Pascoa de Nosso Senhor, a festa do Carmo porém se
manteve com o grau de solenidade para os dois ramos da Ordem, e memoria
facultativa para Igreja. O Carmelo descalço tendo em referência a antiga oitava
manteve sob o grau de memoria facultativa a celebração de Nossa Senhora Mãe da
Divina Graça, o que não aparece no novo calendário do Carmelo Observante.
Referências:
BOAGA,
Emanuele, Celebrare i nostri santi,
Edizione Carmelitane: Roma, 2010
- Senhora
do Lugar: Maria na história e na vida do Carmelo, Editora do Carmo:
Paranavaí, 1994.
Missale Carmelitanum,
Ordinis Fratum Beate Merae Virginis de Monte Carmelo: Rome, 1935.
[1] Escrito para as Monjas Carmelitas Descalças,
do Carmelo Nossa Senhora da Assunção e São José em Curitiba.
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