Tiago Correia da Silva
RESUMO
A
peregrinação e o heremitismo são espiritualidades fundadas em elementos
bíblicos e na tradição cristã que decorre desde os primeiros séculos,
tornando-se fortes movimentos espirituais no medievo, sobretudo no período das
cruzadas. Aqui trataremos da Ordem do Carmo que surge no século XIII e converge
em suas origens essas duas espiritualidades, pois surge em um local de
peregrinação, a Fonte de Elias no Monte Carmelo, Terra Santa. Esta ordem
religiosa tem sua primeira institucionalização como um collegium de eremitas, dada na Formula de Vida escrita por Santo
Alberto de Vercelli entre 1206 e 1214. Essas marcas espirituais acompanhariam
esta ordem em sua migração da Terra Santa ao Ocidente e, mesmo com profundas
transformações, prosseguiriam vivas no espirito do Carmelo.
Palavras-chave:
Espiritualidade Medieval; Peregrinação; Heremitismo; Ordem do Carmo.
ABSTRACT
Pilgrimage and
eremitism are spiritualities rooted in Scripture and Christian Tradition.
These movements, which are evident from the earliest days of the Church,
were to gain prominence in the medieval age, especially in the Crusades. This
work will demonstrate how the Carmelite Order, which traces its origins to the
13th century, blends these two spiritualities. The cradle of the Order, Mount Carmel,
was long a place where hermits lived and pilgrims visited. The Carmelite
Order began as a collegium of hermits
who approached the Patriarch of Jerusalem, Albert of Vercelli, for a FormulaVitae sometime between 1206-1214.
Although the hermits were to leave the solitude of Mt Carmel soon after
receiving this document from Albert and enter the mendicant movement of
developing cities in Europe, they continued to be rooted in, and influenced by
the spirituality of pilgrimage and the hermit life.
Keywords: Medieval Spirituality, Pilgrimage,
Eremitism, Carmelite Order.
1.INTRODUÇÃO
A
cristandade do século XIII é fecunda em movimentos espirituais e as Cruzadas
realçam esse elemento, pois estas expedições militares tinham um ativo caráter
religioso. As peregrinações aos lugares sagrados na Terra Santa se tornam
novamente possíveis por meio delas e junto aos cruzados vemos a formação de
outros movimentos religiosos como os eremitas. Aqui trataremos como a
espiritualidade própria das peregrinações e do heremitismo deram origem e
marcaram a Ordem do Carmo que surge no período da Terceira Cruzada, junto a
Fonte de Elias no Monte Carmo.
Ruínas do antigo convento carmelita do Monte Carmelo. |
2.
A PEREGRINIÇÃO E OS PRIMEIROS CARMELITAS
O
ideal de peregrinação no cristianismo tem origem nas Sagras Escrituras[i], na qual todo cristão é
considerado peregrino. Isto também nos é relatado na Carta a Diogneto, escrito
apologético do século II: “Vivem em suas pátrias como forasteiros; participam
de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria
estrangeira é pátria deles, e cada pátria é estrangeira.”[ii] Tendo em vista tal
fundamentação teológica-espiritual, já nos primeiros séculos do cristianismo,
encontramos registros de peregrinações a Roma e ao Oriente, sendo o lugar de
peregrinação por excelência a Terra Santa. Assim surge o conceito de Loca Sancta: lugares santificados pela
presença de Cristo ou outros personagens das Sagradas Escrituras.
Os
conceitos de peregrinação e lugar santo se tornam, na Idade Média,
dependentes. Os cristãos saem de suas pátrias como peregrinos para lugares
santos. Entre eles se encontravam os sepulcros dos apóstolos Pedro de Paulo, em
Roma; as relíquias de São Tiago, em São Tiago de Compostela; e ainda as
peregrinações à Terra Santa aconteciam em meio a grandes dificuldades pelo
domínio muçulmano naquela região.
Se procurarmos respostas
do porque sair em peregrinação, visto os perigos ocasionados por uma viagem na
Idade Média, só podemos encontrá-las uma vez compreendida a formação religiosa
medieval. Como explica Hilário Franco Junior: “Ideal Cristão (de santidade) era
preferencialmente atingível nos mosteiros, mas os laicos de origem modesta que
não podiam se tornar monges optavam por uma vida de privações, e rudeza, de
severidade que era traço característico da espiritualidade popular da Idade
Média”.[iii]
A peregrinação torna-se,
então, um meio eficiente de penitência, seja voluntária ou como sentença por
algum delito, como afirma LE GOFF e SCHIMITT:“A partir do século XIII, acontece
também de ser imposta pelo confessor como forma de compensação, ou por um
tribunal civil como forma de sansão penal”.[iv] Outro ponto a ser
observado é o ideal escatológico presente na mentalidade do homem medieval, que
faz da peregrinação algo como uma marcha a “Jerusalém Celeste”.
As cruzadas iniciadas no
século XII, certamente, são expedições militares que envolvem vários fatores
sociais e políticos próprios do medievo. Porém, como em todos os campos da
sociedade medieval, seu plano de fundo é religioso. Entre os homens que tomam a
cruz e armados partem para a Terra Santa em defesa dos lugares sagrados,
estavam presentes os peregrinos e muitos dos próprios cruzados assim se
consideravam.
Dentre os muitos lugares
de peregrinação na Terra Santa; aqui nos interessa o Monte Carmelo; faz-se
necessário entender porque o Monte Carmelo pode ser considerado um Loca Sancta. A literatura bíblica[v] exalta o Carmelo como uma
bela porção da Terra prometida; no Cântico dos Cânticos[vi], é usado como um atributo
de beleza no elogio do amado para amada; na profecia de Isaias[vii] fala-se “esplendor do
Carmelo”, e a perca da beleza do Carmelo e sinal da ira de Deus pelos pecados
de Israel[viii]. Foi ainda no Monte
Carmelo que Elias[ix],
um dos mais importantes profetas do Antigo Testamento, reestabeleceu a Aliança
com Javé, “passando a fio de espada os 750 profetas de Baal”. Aí também, Elias
pedira chuva depois de grande seca em Israel. A Bíblia ainda relata que Eliseu[x], discípulo e sucessor de
Elias, manteve estadia no Monte Carmelo.
Neste Monte já veneravam
Elias os Hebreus, tradição que passada aos cristãos ganhou expressividade. Ao
profeta Igrejas foram dedicadas, muitos escritores eclesiásticos a ele se
referiram e a figura de Elias se tornara importante, tanto para os monges que
tomam o profeta como pai da vida monástica devido aos relatos bíblicos, que
falam de sua penitencia e retiro do mundo; bem como figura inspiradora para os
cruzados, pois, segundo narra a bíblia,
Elias defendeu Israel dos pagãos reestabelecendo a aliança com o verdadeiro
Deus, da mesma forma que entendiam seu oficio os cruzados na defesa da Terra
Santa contra os infiéis. Elias Friedman refere-se a algumas fontes sobre a
veneração a Elias no Monte Carmelono tempo das cruzadas:
El
abad ruso Daniel, em 1106, ya sabía que “em esta Montanã (el Carmelo) el santo
profeta Elias vivió en una caverna y fue alimentado por um cuervo”. Benjamín de
Tudela, hacia 1165 reconoció la gruta bajo el promontório como la “Gruta de
Elias”. Juan Phocas en 1175 escrebía que la cueva de la extremidade del
promontório del Monte Carmelo era el lugar donde Elias había vivido uma vida
angélica, antes de subir al cielo...Wilibrando, quien escribe que se celebra
cada dia misa soleneem la “Mansión de Elias”.[xi]
EmaneleBoaga também se refere a esta
devoção eliana entre os cruzados:
Risultaprovatochenell’ambiente dei
crociati in Terra Santa esisteva uma forte devozione ad Elia profeta expressa
specialmenteattraversola iconografia e laconstruzionediluogidi culto
supostieliani, continuando laquestoun modo di fare già in uso dal sec. IV.
Tral’altro, sembraesseredelsecolo XII lachiesetta ereta in onoredi Elia sulla
via checonduce da Gerusalemme a Betlemme, nel posto ove uno
tradizioneaffermavache Elia avesse sostato e chericordanomoltidegliItinera
d’epocacrociata.[xii]
A partir de 1095, temos
fontes que narram a estadia de peregrinos no Monte Carmelo, junto à Fonte de
Elias. Alguns historiadores tomam já estes primeiros peregrinos como os futuros
carmelitas; outros, prudentemente tomam cuidado de analisar que, com a batalha
de Hattin[xiii]
e a perca de força do Império Latino de Jerusalém, Saladino estendeu seus
domínios até mais próximo ao mar possível, inclusive chegando ao Carmelo. Aí
temos seu confronto com as tropas de Ricardo Coração de Leão, no início da
Terceira Cruzada, narrada por RUNCIMAN em sua obra História das Cruzadas:
“O sultão, segui-o num curso
paralelo montando acampamento em Tel-Kaimun, na encosta do Monte Carmelo – de
onde partiu para inspecionar a região da costa ao sul do Carmelo, a fim de
escolher o local para batalha.
Os Cristãos passaram por Haifa, que
Saladino havia desmantelado pouco antes da queda de Acre, e contornaram o
Carmelo; avançavam lentamente, de modo que a frota pudesse acompanhá-los... A
cavalaria ligeira sarracena de tempos em tempos descia o Carmelo e abatia-se
sobre o exército em marcha, capturando os extraviados.”[xiv]
Conhecendo
tal relato, torna-se difícil pensar que um grupo de peregrinos pudesse
sobreviver em tal situação. Assim compreendemos que os peregrinos aos quais nos
referimos estabeleceram-se no Monte Carmelo no período da terceira Cruzada,
formando uma comunidade, algo que parece comum à época segundo nos narra LE
GOFF e SCHIMITT: “entre os peregrinos que caminham juntos todos os dias cria-se
uma fraternidade que pode se prolongar depois da peregrinação, em confrarias.”[xv] Em nosso caso, temos a
formação de uma comunidade eremítica, na qual, encontramos ao menos dois
relatos na “Regra do Carmo” que nos remetem a espiritualidade própria do
movimento de peregrinação: “vivem juntos da Fonte de Elias, no Monte Carmelo[xvi]”, ou seja, em um Loca Sancta; e todo o capitulo XIV,
que trata das armas espirituais, algo próprio da espiritualidade de militareJesuChisto, que não tratava-se
especificamente do aspecto bélico, mas podia referir-se perfeitamente ao
conceito de servitium,
militiaspiritualis, ou seja, serviço pelo combate espiritual, o espírito
próprio da peregrinação nas cruzadas.
Entretanto, só podemos
pensar no conceito de peregrinação até aqui, pois na essência da peregrinação
está a caminhada, e nossos peregrinos se fixaram como eremitas junto à Fonte de
Elias no Monte Carmelo.
3.
O EREMITISMO E A PRIMERIA INSTITUCIONALIZAÇÂO DA ORDEM DO CARMO.
O cristianismo
primitivo encontrou muitos modelos para uma vida eremítica. Entre estes,
recorremos a Elias, pois entre os padres da Igreja já se tem uma série de
escritos que relacionam este profeta ao ideal eremítico. São Jerônimo escreve:
“Os nossos príncipes Elias e Eliseu e nossos chefes os filhos dos profetas, que
habitavam no campo e na solidão, constituíram suas tendas perto do rio Jordão”.
Isto é Elias juntamente com João Batista e Jesus são os grandes modelos para a
vida eremítica que é a origem de toda a vida religiosa.
No
cerne da espiritualidade eremítica está a solidão. O eremita se afasta dos
meios urbanos e parte para o deserto, lugar de profundo combate espiritual, de
vivência radical da pobreza e privações de todo tipo. Uma severa acesse que
pede um profundo contato com as Sagradas Escrituras e um desejo intenso de
contemplação. Assim, a vida eremítica é profundamente escatológica, pois é um
privar-se de tudo neste mundo passageiro em vista de se ter tudo na vida
eterna.
O esplendor do eremitismo
nos primeiros séculos logo seria substituído pela vida monástica. Esta
ganharia, no ocidente, uma legislação comum que é a Regra de São Bento, e
tamanha força que suplantaria outras formas de vida religiosa. Mesmo a reforma
na vida clerical, que dá origem aos cônegos regulares, teria uma profunda
inspiração monástica. Entretanto, seguindo a Regra de Santo Agostinho, temos
então no ocidente medieval dois modelos principais de vida religiosa: a monástica
e os cônegos regulares.
Porém, ao chegar nos
séculos XII e XIII, os mosteiros e cabidos entravam-se envoltos em grandes e
complicadas estruturas, que nem sempre convergiam com a aspiração de santidade
própria da vida religiosa. Temos, então, um renascer da vida eremítica, seja
entre leigos ou monges que buscam a fuga
mundi, e a acesse silenciosa da solidão do deserto. Surgem junto às
peregrinações muitos movimentos eremíticos espontâneos por toda a Igreja, que
logo ganhariam certa uniformização, contando com rituais para ingresso na vida
eremítica, regulamentação do contado do eremita com o mundo, e a prática da
direção espiritual. Alguns monastérios passariam a ser conhecidos como
eremitério e seriam regidos por regras eremíticas cenobíticas.
Sobre
a comunidade eremítica reunida ao redor da fonte de Elias, nos chegam um
conjunto de informações vinda da “Regra do Carmo”, que foi escrita entre 1206 a
1214, por Santo Alberto[xvii], Patriarca Latino de
Jerusalém. Porém, embora a fonte da qual tratamos seja conhecida como “Regra do
Carmo”[xviii], esta não fora escrita
como regra, mas sim como uma “Norma de Vida” para a regulamentação de um collegium no Monte Carmelo. Não tendo como
objetivo se tornar uma regra válida para uma Ordem religiosa que difundir-se-ia
por toda a Igreja. A organização canônica considerava Regule, textos escritos por um Padre da Igreja, com certa
antiguidade, e que foram aprovados pelos concílios. Estas eram, no início do
século XIII,a Regula S. Benedicti,
para a vida monástica; e a Regula S.
Augustini, para a vida dos clérigos regulares. Seus estatutos gozavam de
estabilidade, universalidade na Igreja e reconhecimento como tradicionais
normas de vida. Já a Vita Formula ou PropositumConversationes eram
juridicamente inferiores, pois, representavam a legislação a um estado de vida
ascética, porém não no grau de uma Ordem Religiosa, mais sim em grupos locais,
sob a autoridade do bispo diocesano.
O
texto da “Regra do Carmo” é dirigido a um grupo de eremitas, e seu corpo
consiste em orientações para a conservação dos elementos fundamentais a este
estilo de vida: solidão, leitura e meditação constate das Sagradas Escrituras,
ascese pelo jejum, abstinência e silêncio. Estas orientações de Santo Alberto
estavam de acordo com o modo de vida levado pelos eremitas no Monte Carmelo um
“lugar ideal para contemplação”, visto que são orientações austeras são
dirigidos a homens que buscavam a santidade.
Porém,
o cânon número XIII do IV Concilio de Latrão (1215) proibia a criação de novas
ordens religiosas, sendo a Ordem do Carmo salva desta prescrição graças à bula Ut vivendi norman, de Honório III, que
em 1226 confirmou a “Norma de Vida” dada por Alberto de Jerusalém. Três anos
depois, na bula Exoffiinostri,
Gregório IXreferira-se pela primeira vez à “Norma de Vida” como Regra. Seria
este Pontífice que dirigiria ainda outras bulas concedendo uma série de
privilégios à Ordem do Carmo.
Outro
aspecto da espiritualidade destes primeiros eremitas, que se tornou fundamental
à toda Ordem do Carmo, foi à construção de uma capela no Monte Carmelo que fora
dedicada à Virgem Maria. Ela se tornaria patrona do Carmelo[xix] e daria seu nome a este
grupo de eremitas, que passariam a ser conhecidos como os Irmãos da Bem-Aventurada
Virgem Maria do Monte Carmelo, como aparece, em 1251, em uma bula pontifícia do
Papa Inocêncio IV[xx].
Entretanto,
a vida no Monte Carmelo não foi segura por muito tempo. Do Império Cristão
conquistado pelos cruzados, sobrava um faixa de terra na costa do mar. Os
problemas internos multiplicavam-se e as cruzadas eram cada vez pior sucedidas.
Assim, o embate entre mulçumanas e cristãos logo chegou ao Monte Carmelo. Não
sendo mais segura a estadia destes eremitas na Terra Santa, em 1238 iniciam as
migrações para o Ocidente. Porém, partindo desta data, os conflitos no Monte
Carmelo ficarão cada vez mais acirrados como nos narra RUCCIMAN:
“No começo de 1264, o templo e o
hospital aquiesceram em unir forças para capturar a pequena fortaleza de lizon,
a antiga Megido, e alguns meses mais tarde aliaram-se para uma incursão até
Ascalão; ademais, no outono as tropas francesas, pagas por S. Luís,
permaneceram de forma muito lucrativa até os subúrbios de Beisan. Em
compensação, porém, os mulçumanos devastaram de tal modo a área rural franca ao
sul do Carmelo que a vida ali deixou de ser segura”[xxi]
Não há como pensar que os
carmelitas que permaneceram no Monte Carmelo tenham vivido de uma forma
diferente da vida eremítica. Porém, os carmelitas que migraram para Europaestabeleceram-se
nas cidades e confrontavam com outra realidade. Estes logo pediriam a aprovação
e mitigação de sua “Regra”, que seria promulgada na bula Quae honorem Conditoris, de Inocêncio IV, em 1247, primeiro passo
para passarem de eremitas a mendicantes. Nas constituições de 1281 são
expressas claramente características mendicantes na forma de vida dos frades, o
que levaria ao reconhecimento definitivo do Carmelo como uma Ordem mendicante
pela bula Tonoremcujusdamconstitutiones,
de Bonifácio VIII, que em 1298 equipara a Ordem do Carmo aos Franciscanos e
Dominicanos. Entretanto, não se pode comentar tal transformação sem citar um
movimento de oposição à mendicância manifesto claramente pelo Padre Geral
Nicolau Gálico em sua obra a IgneaSagitta,
de 1270, que é um diálogo entre a Mãe (a Ordem) e o filho (Nicolau), na qual
veementemente exorta os carmelitas a voltarem à vida eremítica.
Joaquim Smet refere-se ao
último relado sobre os eremitas do Monte Carmelo no século XIII:
Burcardo
de Monte Sión, domínico que residia hacía tempo en Acre. Em 1283 visitó a los
religiosos del Monte Carmelo: “Desde Haifa, a una légua a la izquierda, em la
vía que lleva al Castillo de los Peregrinos (Athlit), en el Monte Carmelo, está
la cueva de Elías y el lugar donde habitó Eliseo y la fuente donde los Hijos de
los Profetas viveron y donde los Hermanos del Carmelo viven ahora. Allíestuveyoconellos”.[xxii]
Por fim em 1291temos a
completa extinção do eremitério carmelita na Terra Santa: “Logo em seguida, o
sultão ocupou Haifa sem oposição em 30 de julho, e seus homens atearam fogo aos
monastérios do Monte Carmelo, assassinando seus monges”[xxiii]
Texto latino da Regra do Carmo de 1247 |
4.
CONCLUSÃO
No fim do século
XIII os carmelitas são mais uma das Ordens Mendicantes. Porém, como demostrado,
a origem desta Ordem nos remeteà espiritualidades que encontram seus
fundamentos nos primeiros séculos da tradição Cristã e são para os cristãos desde
a Antiguidade Tardia até a Idade Média, uma forma de vida que os encaminha à
santidade por meio da penitência e das privações. Este ideal de santidade fez
os primeiros peregrinos chegarem ao Carmelo, o lugar santo no qual habitaram o
profeta Elias e Eliseu. Ali formaram uma comunidade eremítica a exemplo dos
mesmos profetas e segundo a tradição cristã. A forma de vida destes religiosos
se modificou no Ocidente, porém, este ideal primeiro de santidade permaneceuvivo
e, mesmo como mendicantesviveriam a exemplo de Elias e segundo a Regra dada por
Alberto; carregariam em seu nome a devoção a Maria e ao Carmelo, lugar de onde
provinham, sendo estes elementos que nos permite ligar a espiritualidade
fundacional da Ordem à sua nova organização no Ocidente.
[i]cf. Hebreus XI, 14-16; I Pedro
II,11.
[iii] FRANCO. Hilário. As Cruzadas. São Paulo: Brasiliense,
1981, p. 32
[iv] LE GOFF, Jacques e SCHMITT,
Jean-Claude, Dicionário Temático do
Ocidente Medieval. Bauru: EDUSC, 2006, p. 354
[v] Referimo-nos aqui à literatura
bíblica, pois André Vauchez, em sua obra La
espiritualidade delOccidente medieval p. 96-97, se refere a uma disputa
entre leigos e clérigos para obtenção do direito à pregação bíblica já em meados do século XII.
Refere-se ainda à traduções dos Evangelhos em línguas vulgares e exemplos nos
quais o direito de pregação foi concedido a leigos e eremitas, assim
reconhecemos no período das cruzadas alguma familiaridade dos peregrinos com as
Sagradas Escrituras, o que pode ser observado também entre os peregrinos que
passam pelo Monte Carmelo e deixaram-nos relatos fundamentados nas histórias
bíblicas que dão significado a este lugar, bem como um conhecimento exegético
do “Ciclo de Elias” que poderia ser conhecidos pela literatura bíblica ou pelos
vários ícones que retratavam o profeta no século XIII.
[vi] Cf. Cântico dos Cânticos VI, 6.
[vii] Cf. Isaias
[viii] Cf. Isaias XXXIII, 9 ; Amos I,2;
Naum I,4
[ix] O ciclo de Elias se encontra nas
Sagradas Escrituras entre o cap. XVII do I Livro dos Reis e o cap. III do II
Livros dos Reis. Quanto a Elias na tradição carmelitana pode ser consultada a
obra editada por CHANDLER, Paul, A
Journeywith Elijah: CarmeliteSeminarontheProphet Elijah Whitefriars Hall,
Washington DC 3-9 April 1991. Roma: CasaEditriceInstitutumCarmelitanum,
1991.
[x] Quanto ao profeta Eliseu na
tradição carmelitana pode ser consultado o artigo de: SANTIN, Wilmar, O Profeta Eliseu e a tradição carmelitana,
in
http://historiadocarmelo.blogspot.com.br/2012/08/o-profeta-eliseu-e-tradicao-do-carmelo.html.
[xi] FRIEDMAN, Elias, El Monte Carmelo y los Primeiros Carmelitas. Burgos: Editorial
Monte Carmelo, 1985, p. 33.
[xii]BOAGA, Emanuele,
Eliaalleoriginidell’OrdineCarmelitano, in: CHANDLER, Paul, A Journey with Elijah: Carmelite Seminar on
the Prophet Elijah Whitefriars Hall, Washington DC 3-9 April 1991. Roma: CasaEditriceInstitutumCarmelitanum, 1991, p. 91
[xiii] Batalha na qual os muçulmanos
liderados por Saladino reconquistaram Jerusalém em 1187.
[xiv] RUNCIMAN, Stiven,
História das Cruzadas, volume III: o
Reino de Acre e as últimas cruzadas. Rio de Janeiro: Imago, 2003, p. 59
[xv] LE GOFF, Jacques e SCHMITT,
Jean-Claude, Dicionário Temático do
Ocidente Medieval. Bauru: EDUSC, 2006, p.354
[xvi] REGRA DO CARMO, prologo.
[xvii] Alberto de Vercelli, que havia
desempenhado cargos proeminentes antes de ser eleito patriarca de Jerusalém
pelos cônegos do Santo Sepulcro em 1204. Nasceu na diocese de Parma. Ingressou
nos Cônegos Regulares de Mortara, como bispo governou a diocese de Vercelli por
20 anos e foi frequentemente chamado pelos papas a desempenhar ofícios
diplomáticos delicados no norte da Itália. Na Terra Santa onde chegou em 1206,
dedicou seus esforços de legado pontifício para harmonizar as relações entre os
príncipes feudais cristãos. Em 14 de Setembro de 1214, durante a procissão da
Santa Cruz em Acre, Alberto morreu apunhalado. Sobre Santo Alberto de Jerusalém
pode se consultar: MOSCA, Vicenzo, Alberto
Patriarca diGerusaleme, Roma: Edizione Carmelitana, 1996.
[xviii] Sobre a evolução e os aspectos
jurídicos da Regra do Carmo pode se consulta a obra de: CICONETE, Regula de Carmen, Roma; Edizione
Carmelitana.
[xix] A devoção a Virgem Maria do Monte
Carmelo foi levada ao Ocidente pelos Carmelitas e se tornaria uma das mais
populares da Igreja Católica Romana.
[xx] COPSEY, Richard, The
Ten Books of the Way of Life and Great Deeds of the Carmelites. Roma: EdizioniCarmelitane,
2005, p. 145.
[xxi] RUNCIMAN, Stiven, História das Cruzadas, volume III: o Reino
de Acre e as últimas cruzadas. Rio de Janeiro: Imago, 2003, P. 280.
[xxii]SMET,
Joaquín, Los Carmelitas: História de la
Ordem del Carmen, Volume I: Los orígines. En busca de la identidade.
Madrid: La Editorial Catolica, S. A., 1987, p. 41.
[xxiii] RUNCIMAN, Stiven, História das Cruzadas, volume III: o Reino
de Acre e as últimas cruzadas. Rio de Janeiro: Imago, 2003,
p. 368.