segunda-feira, 1 de abril de 2013

Iconografia de São Nuno de Santa Maria

D. Carlos Azevedo - Bispo Auxiliar de Lisboa 

    As descrições fisionômicas de Nuno de Santa Maria, referidas pelos cronistas carmelitas, apontam como características principais do seu rosto: comprido e banco, nariz afinado, olhos pequenos e vivos, sobrancelhas arqueadas, rugas na testa, boca pequena, cabelos e barba ruivos, sendo esta pouco densa e caída. 
    Quando se trata de iconografia de santos, a primeira questão é saber se há "verdadeira efígie". Ora, para São Nuno de Santa Maria é considerado um retrato do século XV, no espaldar da sacristia do Convento do Carmo de Lisboa, de meio-corpo e vestido como donato carmelita (meio-irmão). Este quadro ardeu no terremoto de 1755, mas conservam-se muitas figurações semelhantes. Comecemos, por isso, esta sucinta evolução ícono-gráfica do Condestável pela representação de donato carmelita, antes de passarmos à veste de guerreiro.

Carmelita 

    São inspirados no quadro do Carmo: pintura do século XVI, da Casa de Pombal-Oeiras-Santiago; a xilografia da segunda edição da Cronica do Condestabre (1554) e um desenho de Fr. Manuel de Sá de 1721. Há no museu de Arte Antiga dois retratos (séc. XVII) de São Nuno, de meio-corpo. Um veste D. Nuno com capa branca, imprópria de um donato. Outro, proveniente do Mosteiro de S. Vicente de Fora, continua a revesti-lo de murça, com gola ornada pela abertura. Muito semelhante é a gravura de buril de Pieter Perret para a edição do poema de Francisco Rodrigues Lobo, de 1610. Aqui coloca-lhe, pela primeira vez, um rosário ou camândula, na mão direita encostada ao peito.
    A primeira imagem a mostrar Nuno de Santa Maria de Corpo inteiro, na veste de religioso, é a rude pintura seiscentista sobre tábua (Moura). Mostra o donato com rosário e bastão na mão direita, segurando na esquerda maquete de igreja.

Condestável

    Voltando á versão retratista consideramos, agora, a representação de São Nuno como guerreiro. A primeira figura conhecida é uma xilografia da Cronica do Condestabre, da edição de Germão Galhardo, 1526. Trata-se de Nuno Álvares Pereira de corpo inteiro, de pé, calvo. Revestido de armadura, sustenta com as duas mãos a maça. No chão, à sua direita, o elmo.
    A tela (Séc. XVI-XVII) da Casa do Cadaval, em Sintra, apresentada Nuno armada com rico arnês e pelote  ornamentado. Na direita segura a maça e na esquerda a espada. No canto superior esquerdo, vê-se o brasão dos Pereiras, e no canto inferior direito, o elmo.   

Beatificação

    Após a beatificação, em 1918, multiplicaram-se as imagens. figurando como guerreiro, com a mão direita sobre o peito e espada, escudo e capa na esquerda é a Estátua de B.Verghetti, existente no Pontifício Colégio Português (1925). Pela mesma data, também Maria do Carmo dos Santos Pereira e Vasconcelos esculpiu um Nuno jovem e guerreiro, com as duas mãos a sustentar a espada, elmo no chão e olhos no alto. Encontra-se na sala das sessões da juventude Católica, em Lisboa.
    A Escola Prática de Infantaria de Mafra mandou executar (1950) uma escultura do guerreiro, com elmo e couraça. Segura a espada na direita sobre o peito e na esquerda o grande escudo, com a cruz dos Pereiras.
Recente é a estatua equestre de Nuno Álvares, obra de Simões de Almeida, implantada junto ao mosteiro da Batalha. O Museu de Amarante conserva desenho de António Carneiro (1927) com São Nuno a cavalo, com a espada na mão esquerda.
  Deixando, por agora, de lado representações raras com atribuição duvidosa, podemos referir a representação de Nuno como pagem num fresco do Palácio da Justiça do Porto, feito por Dório Gomes.

Cenas da Vida 


    Uma posição que iria ser muito glosada consiste em representar o santo de joelhos, em oração. É o caso do registo holandês do século XVIII, no qual Nuno Álvares está diante de imagem de Maria, em altar. No chão uma coroa ducal e um elmo de guerreiro. O famoso gravador Debrie executou (1749), para a Chronica dos Carmelitas de José Pereira de Santa Ana, a representação de diversos episódios: 1) Capítulo de 1423; 2) Nuno Álvares à porta do convento do Carmo; 3) Nuno de Santa Maria, vestido de donato, acompanha arquitecto e três religiosos em visita às obras do convento.
   Também setecentistas são os azulejos da Igreja de Nossa Senhora da Orada, em Sousel, com as seguintes cenas: 1) Nuno Álvares manda edificar um convento; 2) Nuno Álvares de joelhos diante de imagem de Maria; 3) Nuno Álvares em oração, de joelhos, enquanto uma legião de anjos sobe escada; 4) Nuno acorre à batalha dos Atoleiros. O azulejo foi também usado por Jorge Colaço, seja na Capela de Fradelos, no Porto, onde o Condestável está de joelhos, seja na grande cena da Estação de S. Bento, Porto, que representa o santo a cavalo, na entrada de D. João I na cidade do Porto. O azulejo da Igreja da Senhora da Conceição, no Porto, mostra Nuno Álvares com bandeira erguida na esquerda e espada na direita, diante de campo de batalha e da fachada do Mosteiro da Batalha.
    Na Casa-mãe dos Carmelitas Calçados (1916), em Roma, Giuseppe Gonnella pintou duas telas: 1) Vestição ou imposição do hábito a Nuno Álvares, copiada em azulejo da igreja do Carvalhido. 2) D. Nuno carmelita, com a mão direita estendida a apontar para uma mesa, sobre a qual estão a sua bandeira, a espada e o elmo. Alfredo Morais tratou vários passos da vida de Nuno Álvares Pereira: 1) prostrado em oração em plena batalha de Valverde; 2) Nuno Álvares em glória (1932). 3) Nuno Álvares à porta do convento, a mostrar o arnês debaixo do hábito.

    O escultor Teixeira Lopes criou um belíssimo tríptico condestabriano, em baixo-relevo seleccionando três momentos da vida do santo: 1) Nuno de Santa Maria a cavalo, orientado por uma espécie de anjo; 2) Nuno Álvares semi-ajoelhado faz promessa diante da Maria; 3) Morte de Nuno de Santa Maria. Em 1929, esculpiu um baixo-relevo intitulado “Visão”. Finalmente existe também um relevo denominado “Ditosa pátria” que junta o nosso herói com Camões, a homenagear a Pátria. O pintor Sousa Lopes tem telas no Museu Militar. São interessantes as criações para ilustrar livros: Carlos Carneiro, Gouvêa Por-tuense e Martins Barata, por exemplo. Martins Barata executou um fresco para a Igreja de Santo Eugénio em Roma, dedicado à Senhora de Fátima. Aí mostra vários santos portugueses, entre os quais São Nuno de joelhos, mãos erguidas, com a bandeira do lado esquerdo e a espada no chão.


Reprodução da pintura existente na Sacristia do Convento do Carmo de Lisboa.

 

Xilogravura da Cronica do Condestável - 1526 


Reprodução do desenho de Frei Manuel de Sá - 1721


Tela da Casa do Cadaval. 
Azulejos of Nuno Álvares Pereira in Battle of Aljubarrota, in Centro Cultural Rodrigues de Faria, Forjães, Esposende, Portugal, from Jorge Colaço

Escultura de S. Nuno, Mosteiro da Batalha.

Azulejo da Igreja da Orada, S. Nuno rezando antes da uma batalha.

 














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